Nem briga com Benjamim Steinbruch, que ela considera um amigo e colaborador, nem com os acionistas. A executiva Maria Silvia Bastos Marques deixa a presidência da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), para viver mais. “Ele (Steinbruch) teve muita coragem ao me contratar”, diz. “Levar para a presidência da CSN uma mulher e ainda grávida de gêmeos, só com muita coragem.” Para ela foram seis anos bastante trabalhosos, mas muito gratificantes. “Tudo o que eu pude fazer
pela CSN foi feito, e acabei me tornando
uma siderúrgica.”

A decisão de sair, tomada há seis meses, iria ser anunciada no último dia de abril, na reunião do Conselho de Administração, seguida de uma coletiva de imprensa. Mas, para sua irritação, a notícia vazou antes
e estragou os planos.

A executiva de 45 anos não parou de trabalhar nos últimos anos, sem nenhum intervalo de férias. Agora, ela pretende tirar uns dois meses de descanso para fazer tudo o que não fez pelo excesso de trabalho. Política? “Não é a minha praia”, diz. Maria Silvia se filiou ao PFL quando foi secretária municipal de Fazenda do Rio de Janeiro, na década de 90, mas nega ter sido convidada para se candidatar a qualquer cargo. “Ir para Brasília com dois filhos pequenos que nunca fui buscar no colégio,
nem pensar.”

Entusiasmada com a rara oportunidade de sair da rotina de trabalho que se estendia até os fins de semana, ela disse a ISTOÉ que sua saída da CSN “é coisa de mulher”, uma mulher talentosa e sofisticada que foi buscar no escritor argentino Jorge Luís Borges uma justificativa mais poética para sua decisão: “Se não sabem, a vida é feita de momentos. Se eu pudesse voltar a viver, daria mais voltas na minha rua, contemplaria os amanheceres e brincaria mais com crianças.”
A afirmação de que não houve nenhum atrito por trás de sua decisão foi confirmada pelo mercado, que não reagiu à mudança do comando da empresa. Na realidade, a escolha de Benjamim Steinbruch para a presidência foi considerada uma garantia de que não haverá grandes mudanças na CSN. Até a primeira semana de junho, a executiva vai deixar também a presidência do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), cargo que será assumido pelo vice-presidente, José Armando de Campos.
Sobre a especulação do mercado de que a CSN será preparada para uma parceria com um grupo estrangeiro, um dos conselheiros afirmou que essa negociação vai ser analisada apenas no segundo semestre.

Maria Silvia participou da equipe econômica do então ministro do Planejamento, Antônio Kandir, no governo Collor. Saiu de Brasília e foi direto para o BNDES, do BNDES para a Prefeitura do Rio e da prefeitura para a CSN, sem nenhum intervalo. Chegou a hora de paparicar seus gêmeos em período integral e deixar para trás as brigas contra “o protecionismo da atrasada indústria do aço americana, que foram muito desgastantes”, não sem antes recomendar um comando único para a política de comércio exterior enfrentar problemas como esse. Paparicar os gêmeos é bem mais gostoso, sem dúvida, mas não deve durar muito. Maria Silvia admite assumir, em poucos meses, um novo cargo executivo.