Uma bexiga na mão esquerda, um sorvete na direita e uma estante cheia de quadrinhos diante dos olhos. A paisagem na 17ª Bienal do Livro lembra a Terra do Nunca, o mundo fantástico habitado por eternas crianças nas histórias de Peter Pan. O público infantil domina o maior evento editorial do País ao mesmo tempo que os adultos precisam se desdobrar cada vez mais para chegar à feira. Não bastasse a banalização da maioria dos supostos lançamentos, disponíveis em livrarias há meses, sua localização se torna cada vez mais proibitiva. Se até a última edição a Bienal acontecia no Expo Center Norte, a sete quilômetros do marco zero de São Paulo, hoje o visitante tem de percorrer o dobro para chegar ao Centro de Exposições Imigrantes. Fica mais fácil colocar os filhos no ônibus da escola…

Apesar da presença de palestrantes ilustres como Jean Baudrillar, Ariano Suassuna e Lygia Fagundes Telles, quem mais aproveita a Bienal é a garotada. Nos dois dias especialmente programados para excursões escolares (uma segunda-feira e uma terça-feira), foram computados 72 mil estudantes, dez mil a mais do que o número total de visitantes no final de semana. Entre as mais festejadas novidades deste ano, muitas se dirigem aos pequenos, como a reedição em dez volumes das obras completas da Mafalda, de Quino, o juvenil De braços para o alto, de Drauzio Varella e Cárcamo, e uma nova versão do best-seller O senhor dos anéis ilustrada pelo próprio autor, J. R. R. Tolkien, que rivalizou em vendas com a edição convencional. A jovem Luciana Frederico, 16 anos, voltou para casa com um exemplar do primeiro volume da famosa trilogia.

“Já comprei três livros. Se continuar passeando, vou gastar ainda mais”, disse. Luciana cursa o segundo ano do ensino médio na escola O Bosque, de Santo André, que levou 50 alunos de diversas séries ao evento. “Depois de cinco horas em pé, estamos todos cansados e sem dinheiro”, comentou Alessandro Gregório, 14 anos, aluno da oitava série.

Figuras carimbadas nas prateleiras, Ana Maria Machado e Ziraldo foram dois dos mestres da literatura infantil que aproveitaram a oportunidade para divulgar seus novos trabalhos. Ela lançou O canto na praça e Do outro mundo e ele apresentou Menina Nina. Até Maurício de Souza resolveu capitalizar e escolheu o local para anunciar seu novo projeto: uma edição do Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa ilustrado com a Turma da Mônica, com lançamento previsto para outubro. Na segunda-feira 29, a viúva de Aurélio Buarque de Holanda, Marina, apareceu no estande da Nova Fronteira para brindar a novidade. “Dicionário é uma coisa séria e chata.

Com os desenhos, a criança sentirá prazer em consultá-lo”, confia Marina. “Quero investir em projetos educativos e colocar os personagens em diversos livros até o início do ano que vem”, adianta Maurício. Nesta Bienal, ele lançou pela FTD um atlas geográfico com a turma, ao lado de sua filha, Mônica.

Para quem procura livros de gente grande, uma dica é xeretar as obras que, de alguma forma, também remetem ao público infantil, como o livro O direito à verdade: cartas para uma criança, do pediatra Leonardo Posternak (editora Globo). Ele ensina a abordar temas como separação e adoção e tem tudo para atrair os pais que forem arrastados à feira pelos filhos.