É como visitar uma exposição de automóveis feita só de Porsches, Ferraris e Rolls Royces. O Salão Internacional de Alta Relojoaria, realizado no mês passado, em Genebra, na Suíça, é a reunião dos fabricantes de relógios mais importantes do mundo. Seus exclusivíssimos 18 estandes, de grifes como Cartier e Montblanc, oferecem uma profusão de peças de ouro, diamantes e platina, que chegam a custar inacreditáveis US$ 200 mil cada um. Ali só se admite um tipo de marcador de tempo: os de luxo, feitos à mão, como na época dos primeiros mestres-relojoeiros da Europa. Produzidos em séries limitadas, com mecanismos complicados, muitas vezes movidos a corda, são tão sofisticados quanto vinhos de safras raras.

Responsável por apenas 10% da produção mundial de relógios, a alta relojoaria suíça abocanha, sozinha, R$ 18 bilhões ao ano. O valor equivale a 55% do faturamento do setor. Enquanto os fabricantes japoneses se esmeram em criar verdadeiros computadores de pulso, os da região do Vale de Joux primam pelo design apurado, pela precisão técnica e pelo bom gosto (leia quadro à pág. 54). Os modelos lançados no Salão de Genebra vão para butiques de países tão distintos como Japão, Estados Unidos e Arábia Saudita e ditam tendência.

Para este ano, a aposta é na volta dos modelos grandes, semelhantes aos primeiros relógios de bolso dos anos 40. O Summit, da Montblanc (R$ 2,2 mil), é ideal para o dia-a-dia e tão discreto que pode ser usado por mulheres. Já o esportivo Big Pilot, da IWC (R$ 23,4 mil), tem reserva de marcha para sete dias, o que elimina a necessidade de corda nesse período. Alguns dos modelos retangulares, como o Divan, da Cartier (R$ 10,8 mil a R$ 59 mil), se assemelham às telas de televisores antigos. Cronógrafos, mostradores transparentes e mecanismos que atenuam o efeito da gravidade dão a tônica dos modelos mais luxuosos, como o Tourbillon Malte, da Vacheron Constantin (R$ 304 mil).

Para atrair consumidoras, as grandes marcas recorrem aos diamantes. O mais novo sucesso de vendas da suíça Jaeger-LeCoultre é o Reverso Neva (R$ 93 mil), cuja caixa desliza e gira 180 graus, para proteger o mostrador e exibir o verso cravejado de 550 brilhantes. Como a moda pede cores vibrantes e detalhes como pulseiras de couro de crocodilo, a Vacheron Constantin convidou a maison Lesage, que produz tecidos para Dior e Yves Saint-Laurent, para criar novos modelos de seu relógio feminino mais famoso, o 1972 Asymetric (R$ 57,5 mil).

É que, em relojoaria de luxo, homens e mulheres habitam mundos distintos. Enquanto elas são atraídas pela beleza, eles querem modelos que, além de medir horas, minutos e segundos, tragam grandes complicações como calendário, cronógrafos, cronômetros, alarme, indicador de fases da lua e de fuso horário. Um detalhe muito importante é que a caixa seja transparente, para que o dono veja o coração do relógio batendo. Para colocar tudo isso dentro de uma caixa com poucos milímetros de espessura são necessários meses. E, quanto mais complicada a fabricação, mais caro.

Por isso mesmo, alguns dos modelos mais cobiçados atualmente saem da A. Lang & Söhne, uma fábrica só conhecida por iniciados, que produz apenas duas mil peças por ano. Criada em 1844, no leste da Alemanha, produziu relógios de bolso durante mais de 100 anos até ser expropriada por ordem do governo comunista. Ao reabrir, 12 anos atrás, passou a fabricar luxuosos modelos de pulso em ouro e platina, cada qual com 14 movimentos diferentes e mais de 390 componentes. Um único exemplar pode levar até seis meses para ficar pronto, o que tem provocado filas de espera de três anos. Seus preços vão de R$ 23 mil a R$ 460 mil.