O Amparo Maternal, entidade filantrópica que atende gestantes carentes em São Paulo há 63 anos e chega a realizar 200 partos por dia, está ameaçado de ficar no escuro no Dia das Mães. A Eletropaulo notificou a casa, no último dia 25, avisando que vai cortar a energia elétrica até o dia 9. Sem pagar as contas de luz há um ano, a instituição acumulou uma dívida de R$ 160 mil com a distribuidora de energia e não tem como quitar o débito. Dirigido pelas freiras vicentinas, o Amparo se mantém com verbas repassadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A despesa mensal gira em torno de R$ 700 mil, mas o SUS repassa apenas R$ 398 mil. “Há sete anos não temos reajuste na tabela do SUS”, afirma Emílio Ferranda, diretor da instituição. “A pressão dos credores é muito grande. As contas de água também estão atrasadas e estamos sendo processados por causa disso”, revela a freira Anita Serrachioli Gomes, 75 anos, presidente da casa. “Os governos federal e estadual prometeram ajuda, mas há dois anos essa ajuda não chega.” Nos últimos dois anos, a situação só piorou. Até então, a entidade recebia ajuda financeira de dom Paulo Evaristo Arns, mas
depois que a Arquidiocese de São Paulo mudou de comando esses recursos desapareceram.

Na região metropolitana de São Paulo, o Amparo Maternal é uma referência às mães carentes, psicopatas, andarilhas e migrantes que não têm onde ficar. Lá, elas recebem assistência médica, psicológica, roupas, alimentos, alojamento e a garantia de só saírem dali quando forem reintegradas à sociedade.

São realizados por mês 1,2 mil partos, 28,5 mil exames laboratoriais clínicos e 1,8 mil consultas de pré-natal. O albergue leva o nome de alojamento social e conta com 100 leitos onde ficam as gestantes abandonadas – mais de 50 mil já foram amparadas pela instituição.
A maternidade possui 150 leitos e o centro cirúrgico e a UTI estão aparelhados com equipamentos de última geração. “Se a Eletropaulo cortar a luz, ocorrerá um desastre. Os bebês que estão na incubadora poderão morrer”, avisa o médico Renato Abreu Filho. “Luz e água são serviços essenciais e contínuos e não podem ser cortados, como assegura o Código de Defesa do Consumidor. Se a luz for cortada e ocorrer uma tragédia, a Eletropaulo responderá por isso”, avalia o advogado Mário Simas, que presta serviços à entidade há 15 anos.
A companhia, segundo Simas, tentou uma negociação: propôs um pagamento parcelado acrescido de juros e multa. “Trata-se de um acordo inviável para quem tem problemas financeiros”, concluiu o advogado, que já enviou alertas ao Ministério da Saúde, ao governador do Estado e aos secretários de Saúde do Estado e do município. Mais de 100 gestantes
e 30 bebês encontram-se hoje no Amparo Maternal. Entre elas Verice Gomes, 25 anos, que engravidou do namorado, perdeu o emprego e foi despejada. “O Amparo foi o único lugar que me acolheu. Aqui tive a minha filha, Beatriz, e tenho a certeza de só ir embora quando arrumar outro emprego e puder pagar um aluguel.” Ao saber que poderia ficar sem
luz, Verice perguntou: “Esse é o presente que vamos ganhar no
Dia das Mães?”