Observador sagaz e irreverente, o escritor Antônio de Alcântara Machado (1901-1935) retratou como poucos a sociedade paulistana do começo do século XX. Numa época em que metade dos moradores da cidade era estrangeira, seu livro de contos Brás, Bexiga e Barra Funda, de 1927, levou para a literatura a mesma mescla de português com italiano que se ouvia pelas ruas daqueles bairros. À coletânea seguiram-se outras obras do gênero e uma biografia, até nascer seu único romance Mana Maria (Nova Alexandria, 103 págs., R$ 12). Embora conciso, o livro é tão minucioso
ao retratar a mulher que lhe dá título que é impossível ficar indiferente
à sua movimentação.

Mana Maria é daquelas mulheres capazes de intimidar com o olhar a mais descontraída criatura. Com a morte da mãe, mal o enterro havia acabado, ela deixa claro que comandaria com mão de ferro a rotina da família. Mas os piores castigos reservou para si própria, privando-se do amor. No entanto, é uma personagem cativante ao esquadrinhar o mundo com seu olhar sarcástico neste romance de leitura rápida. Mana Maria foi publicado pela primeira vez em 1936, um ano depois da morte prematura de Alcântara Machado, aos 34 anos. À época, o livro foi apresentado como inacabado, mas, se faltou uma revisão final do autor – considerado por Mário de Andrade um dos modernistas mais autênticos –, não chega
a ser perceptível.