Aos 62 anos e depois de atuar em meia centena de filmes, alguns deles assinados por nomes como Luchino Visconti, Elio Petri e Vittorio De Sica, a cearense Florinda Bolkan continua sendo uma mulher esguia e imponente. É assim que ela pode ser vista em Eu não conhecia Tururú (Brasil, 2000), em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo na sexta-feira 10. Florinda aparece pouco. É atrás das câmeras que imprime sua assinatura nesta sua estréia como diretora, produtora e autora da história. Seu papel é o de Eleonora, a mais velha das quatro filhas de Letícia (Lidia Matos), uma típica matriarca, viúva, alojada num casarão em Uruburetama, município onde a atriz-diretora nasceu e onde vive a fictícia Rose (Maria Zilda Bethlem), que mais tarde se reunirá a Eleonora e Isabel (Ingra Liberato). A festa familiar se deve ao quarto casamento de Carmen (Suzana Gonçalves).

É um enredo de tom leve e elegante, apoiado na fotografia asséptica do argentino Félix Monti. Sem grandes arroubos, Florinda retrata o Nordeste com a distância de uma estrangeira, o humor de uma aristocrata e o fairplay de quem já viveu muito – e bem. Outro detalhe que chama a atenção é o papel acessório dos homens na trama. O novo marido de Carmen, por exemplo, tem a metade de sua idade e se comporta como um bebezão, e o companheiro de Isabel nem aparece, o que faz com que ela se entregue a desconhecidos em banheiros. Rose vacila entre o excessivamente sensível Dodô (Fernando Alves Pinto) e o insuportavelmente insensível Gil (Herson Capri). Eleonora, é claro, corre por fora, mantendo um caso com a própria enteada, Selvaggia (a atriz italiana Valentina Vicario). Em compensação, o segredo escondido no título é de um charme irresistível. Florinda Bolkan – ou Bulcão, como era conhecida antes de se fixar na Itália e adquirir sotaque romano – conseguiu a proeza de realizar um filme no qual o conceito de lesbian chic e a altivez típica da mulher cearense se confundem.