A polêmica presença das Forças Armadas no policiamento do Rio de Janeiro se encerrou na quinta-feira 13 em meio a confusões e desencontros políticos que passaram a ameaçar o sucesso da guerra contra o crime. Procurando mostrar que mantém a disposição de combater a violência, o governo federal vazou para a imprensa, antes de apresentar à governadora Rosinha Matheus, a intenção de assumir as polícias do Rio. Acuada, a governadora reagiu, rechaçando a intervenção. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou, determinando que seu “Plano B” só fosse anunciado pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ao lado da governadora e após exaustivas negociações lideradas pelo secretário Nacional de Segurança, Luiz Eduardo Soares.

As Forças Armadas, atendendo a um pedido de Rosinha, estiveram nas ruas por 13 dias. Os traficantes interromperam a onda de terrorismo iniciada em fevereiro, mas a cidade continuou aterrorizada por tiroteios e crimes emblemáticos, enquanto as autoridades se desentendiam. Na noite de sábado 8, o professor Gustavo Armando de Pádua Schnoor, de 50 anos, saiu para passear com seu cachorro e foi morto com quatro tiros. O crime, que comoveu a cidade, aconteceu no dia do encontro da governadora com o ministro da Justiça.

Foi preciso muita habilidade do governo federal em restabelecer o diálogo para costurar o Plano B. A confusão parecia já desfeita quando surgiram notícias de que o plano incluiria o combate à corrupção nas Forças Armadas. O Ministério da Defesa reagiu com uma nota dura, afirmando que as insinuações “em nada contribuem para a necessária união de esforços entre as autoridades e a população no combate ao crime”. O Ministério da Justiça correu para desmentir a idéia de combater a corrupção nos quartéis.

Não foram só os mal-entendidos e os conflitos de autoridade que deixaram o carioca apreensivo com o desfecho da guerra contra o crime. A bandidagem continuou produzindo traumas. A Linha Vermelha, um dos principais acessos ao Rio, foi fechada na madrugada de quarta-feira 12, depois de um ataque de traficantes a um carro da polícia. Na madrugada seguinte, foi a vez de a Linha Amarela, outra via expressa crucial, ser fechada por tiroteio.

No Plano B, foi descartada a presença das Forças Armadas nas ruas,
mas cerca de 1.500 soldados ficarão de prontidão. Outra idéia é criar
em torno do Rio um “anel de proteção”, com a Polícia Rodoviária Federal
e a Polícia Federal atuando com rigor. A União aumentaria o efetivo da
PF e fiscalizaria melhor os portos. O Estado combateria a corrupção policial e investiria em inteligência e modernização dos presídios. Depois de idas e vindas e de muita discussão, a solução encontrada parece
tão simples quanto o sonho dos cariocas: o de que cada poder público cumpra sua obrigação. Apesar de óbvia, pode ser a única arma eficaz contra o poder paralelo.