Nascido no campo de refugiados de Shati, na faixa de Gaza, onde passou 17 dos seus 40 anos, o diretor palestino Rashid Masharawi tinha tudo para ser um cineasta panfletário. Mas o que se vê em Haifa (Haifa, Palestina/Holanda, 1995), em cartaz em São Paulo, transcende a ótica militante. E não é outra a razão do filme, mesmo tendo sido realizado num contexto totalmente diferente da atual tragédia vivida pelos palestinos em seus conflitos com israelenses. O enredo se passa em 1993, quando se discutia nos Estados Unidos o acordo de paz e a criação de um estado palestino. Sem personagens secundários, a fita apresenta um retrato, feito de pinceladas rápidas, do cotidiano num campo de refugiados. Quem conduz o olhar da câmera é Haifa (Mahammad Bakri), espécie de louco da aldeia. Em sua andança, ele cruza com a família Said, cuja matriarca Oum (Hiyam Abbass) trama um casamento para o filho mais velho, prestes a sair da prisão. O mais moço se enquadra no grupo dos que acham uma balela os acordos de paz. Falta-lhe apenas a chama do fanatismo para se transformar num homem-bomba. Embora datado, Haifa ajuda hoje a compreender a praticamente insolúvel questão palestina.