Um rastro de terror e morte se espalhou na periferia de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. O Ministério Público e as corregedorias das polícias estão investigando o envolvimento de pelo menos 20 policiais em um grupo de extermínio que estaria agindo naquela cidade desde 1995. Os policiais podem ter cometido dezenas de crimes, entre eles o assassinato de três irmãos, a morte de um detento na cela do 1º DP e a execução de um traficante na Santa Casa de Misericórdia, no ano passado. “De 1995 até o ano passado, 212 adolescentes foram mortos em Ribeirão”, revelou Marcelo Pedroso Goulart, promotor da Vara da Infância e da Juventude, que encaminhou as denúncias. “Ouvi todos os familiares das vítimas. E há suspeitas de que policiais, tanto civis quanto militares, participaram de várias execuções”, afirma Goulart. “Não podemos atribuir todos esses crimes ao grupo, mas todas as mortes ocorreram em circunstâncias que sugerem execuções”, completa Carlos Cardoso, assessor de Direitos Humanos da Procuradoria Geral de Justiça, que também auxilia nas investigações. As vítimas, em sua maioria, eram jovens egressos da Febem, envolvidos em roubo e tráfico de drogas.

Outros dois esquadrões da morte também estariam fazendo o mesmo em Guarulhos, cidade da grande São Paulo. Pelo menos cinco PMs, apontados como matadores, estariam por trás da execução de vários jovens com idades entre 15 e 22 anos. “Em vários casos de homicídios, PMs são apontados como suspeitos”, afirma Neudival Mascarenhas Filho, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado de Guarulhos. Segundo ele, a Corregedoria da PM está investigando 12 inquéritos que envolvem 18 vítimas. Há dois anos, o ouvidor Fermino Fecchio Filho vem recebendo visitas de moradores de Guarulhos desesperados, pedindo justiça pela morte ou pelo desaparecimentos de seus filhos. “Há vários casos em que a vítima foi abordada por policiais, colocada em carros da polícia e depois apareceu morta ou nunca mais apareceu”, conta o ouvidor. “Os anos se passaram e o modelo de matança é o mesmo”, ataca o jurista e vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo. “Se as investigações não forem colocadas nas mãos da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, elas não vão dar em nada, pois quando o próprio órgão investiga a si próprio o resultado é zero”, ressalta Bicudo, que combateu o Esquadrão da Morte de São Paulo, do qual faziam parte delegados e investigadores, no fim dos anos 60.