Nestes dias em que o mundo real se encontra ao alcance de um mouse, o grande dilema do editor virtual é como falar quase tudo ocupando pouco espaço, uma vez que a telinha do computador não consegue prender a atenção do jovem internauta por muito tempo, num só assunto. Para suprir esta demanda ou, em linguagem técnica, a falta de conteúdo, felizmente ainda existem os livros. Editoras como a Ediouro, com sua coleção Clássicos para o jovem leitor, trazendo obras famosas de todos os tempos, ou a Scipione, que acaba de lançar Hamlet, de Shakespeare, em versão light amaciada por Telma Guimarães Castro Andrade, vão ao encontro da idéia de oferecer literatura de qualidade ao público infanto-juvenil. Os próprios autores também se preocupam em despertar o interesse de seu eleitorado, tratando de elaborar verdadeiros caminhos das pedras, caso de Contos e poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades – vol. I primavera (Objetiva, 144 págs., R$ 21,90), seleção do festejado crítico americano Harold Bloom. A antologia compreende 39 contos e fábulas, além de 74 poemas, selecionados em quatro blocos com os nomes das estações do ano.

Se a indicação não basta e se o leitor não se anima diante de um texto original mais denso, há o recurso da leitura “mastigada”. Monteiro Lobato foi um pioneiro nesta área. Trouxe, inclusive, para seu Sítio do Picapau Amarelo personagens clássicos, como D. Quixote e Peter Pan. Os feitos heróicos de Hércules mereceram dois volumes escritos por Lobato. Agora, o herói mitológico grego pode ser revisitado em Os doze trabalhos de Hércules (Scipione, 48 págs., R$ 16,40), uma adaptação de Leonardo Chianca para a coleção Reencontro infantil. Entre outros títulos, a coleção traz Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas, Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, ou o já citado Hamlet, que representa a guinada para uma linha mais adulta. A mesma adotada pela Coleção Germinal, da Cia. das Letras, braço infanto-juvenil da Companhia das Letras, composta de adaptações assinadas por Fernando Nuno e Silvana Salerno. A seleção encontra-se no seu terceiro volume com Ilusões perdidas (216 págs., R$ 16), de Honoré de Balzac. Foi iniciada com Germinal, de Émile Zola, e Rainha Margot, de Alexandre Dumas.

Radicado na França do século XIX, nascido caribenho e mulato, Dumas
é um nome recorrente quando se fala em adaptações. Ele reaparece na série Livros para jovens e crianças que gostam de ler de verdade com
O Máscara de Ferro (Objetiva, 96 págs., R$ 19,90), que ganhou adaptação de Carlos Heitor Cony, grande entusiasta de Dumas. Para Cony, ele é importante porque cumpre os três objetivos da literatura: emocionar, ensinar e distrair. Motivo pelos quais a editora abriu o leque
e incluiu escritores menos conhecidos. Caso de Sylvia Orthof, já falecida, autora da peça infantil Eu chovo, tu choves, ele chove (56 págs.,
R$ 17,90), apresentado pela escritora Ana Maria Machado, cujo currículo inclui mais de 100 livros. Sylvia ainda aparece ao lado de Adriana Falcão, Ruy Castro e Sílvio Romero na coletânea Contos de estimação (48 págs., R$ 16,90), da mesma coleção.

Empenhada com o novo filão, Ana Maria Machado acabou de tirar do forno seu Portinholas (Mercuryo Jovem, 48 págs., R$ 25), no qual escreve sobre os mistérios da criação artística. Ela ilustra o livro com fotos de sua filha, misturadas aos desenhos executados pela menina e às pinturas do mestre Cândido Portinari, cujo centenário se aproxima. No prefácio, Ana Maria pergunta qual seria o milagre capaz de transformar uma obra que retrata apenas o interior de seu autor numa obra em que a humanidade cabe dentro. A resposta não se sabe. Aos jovens resta constatar que, num tempo em que o mundo se encontra ao alcance do mouse, navegar ainda é preciso. Mas ler um livro continua sendo essencial.