Para resolver os mais diversos problemas da humanidade – da obesidade à gripe –, muita gente sonha com a chegada de uma pílula milagrosa. Na semana passada, esse anseio se evidenciou de novo. Mas para um fim inusitado: a beleza. O objeto do desejo está materializado na forma de um suplemento vitamínico indicado para dar firmeza à pele. Batizado de Innéov Firmness, o composto foi criado pelo laboratório Innéov (uma joint venture entre as poderosas Nestlé e L’Oréal) e lançado, por enquanto, em cinco países: França, Portugal, Espanha, Alemanha e Bélgica. Em relação ao Brasil, não se tem idéia de quando ele estará no mercado.

Segundo o fabricante, o Innéov Firmness é recomendado para mulheres com mais de 40 anos. O laboratório elaborou uma fórmula que combina vitamina C e isoflavona (presente na soja), entre outras substâncias.
Em Portugal, a filial da L’Oréal assegurou que a eficácia do suplemento
foi comprovada por meio de quatro estudos apresentados durante
o 11º Congresso da Academia Européia de Dermatologia, ocorrido
em Praga (República Tcheca), no final do ano passado. As pesquisas foram amparadas pelas multinacionais. A Nestlé respondeu pela escolha dos ingredientes e do método, que permite a melhor absorção dos compostos. A marca francesa de cosméticos entrou com seus conhecimentos da fisiologia da pele.

Se dependesse apenas das credenciais das empresas envolvidas
no lançamento, o mérito do produto poderia estar garantido. Mas
a verdade é que entre os especialistas não há consenso quanto
à importância dos suplementos.

É verdade que o envelhecimento celular está diretamente ligado
à proliferação dos radicais livres, compostos que provocam a morte
das células por meio da oxidação. Para combater esses agentes, são utilizadas substâncias chamadas antioxidantes. Entre elas estão
as vitaminas C, A e E. Não há, porém, estudos feitos por outras instituições que apontem um papel específico desses elementos
quanto à firmeza da pele. “O que dá para imaginar é que a vitamina
C bloquearia a destruição de células produtoras de colágeno, fibra
que dá elasticidade”, afirma a dermatologista Ana Paula Jorge,
integrante da Academia Americana de Dermatologia.

Em relação à isoflavona, a explicação estaria no poder de hidratação da substância, um benefício reconhecido pelos médicos. Ela também ajudaria a combater o envelhecimento cutâneo. “Quando sua aplicação é tópica, ela atua como um potente antioxidante”, acrescenta a dermatologista Ana Lúcia Récio, que também faz parte da Academia Americana. Sem mais detalhes do Innéov Firmness, porém, fica difícil saber até que ponto as cápsulas são realmente eficazes. Portanto, ainda não dá para dizer que basta tomar um comprimido para se transformar em beldades do panteão de Gisele Bündchen.

De qualquer forma, o caminho apontado pela joint venture abre mais uma perspectiva para a manutenção da beleza. O médico Sérgio Talarico, do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo, por exemplo, sustenta que devem ser feitos mais estudos sobre as substâncias antioxidantes. Mas, de acordo com ele, não é hora de estimular o consumo dessas cápsulas como meio de evitar o envelhecimento precoce e a perda da beleza da pele. “É uma linha de pesquisa interessante. Mas é preciso cuidado. O que sabemos hoje é muito pouco para que se inclua o suplemento vitamínico no arsenal terapêutico”, diz. O presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Márcio Rutowitsch, também recomenda cautela. “Não conheço nenhum estudo sério que comprove que essas substâncias aumentem a firmeza da epiderme. Os antioxidantes ajudam a remover os radicais livres, mas não farão as rugas desaparecerem”, emenda.

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 Nem todos pensam assim. Há um ano, a médica Ana Lúcia indica aos pacientes um composto vitamínico, que apelidou de pool anti-age, para melhorar a aparência de rugas de expressão e de linhas finas. Manipulada em farmácia, a fórmula leva as vitaminas C e E, os minerais zinco, manganês e cobre e dois tipos de aminoácidos (parte de uma proteína). A combinação repete a composição de uma cápsula criada há dois anos por pesquisadores da Califórnia (EUA). “Cerca de 50 mulheres tomaram esse suplemento durante cinco semanas. Houve uma redução de 34% na profundidade das rugas”, sustenta. Segundo Ana Lúcia, as pessoas devem lançar mão da suplementação, desde que sejam orientadas por dermatologistas. Ana Paula Jorge também acredita que a ingestão dessas substâncias é benéfica para a aparência da cútis. “Os aminoácidos são essenciais para a produção de substâncias que dão elasticidade à pele”, esclarece. Já para a nutricionista Maria Luiza Ctenas, da C2 Consultoria em Nutrição, uma boa alimentação seria o suficiente para garantir a beleza da epiderme. “A pele e o cabelo refletem o estado nutricional. O problema é que, devido à correria, pouca gente consegue atender a suas necessidades de vitaminas e minerais. Por isso, recorre-se à complementação”, observa. Quem cuida da alimentação para manter a saúde, inclusive a da pele, é a atriz Nívea Stelmann, 28 anos. Apesar de não recusar um chocolate, ela faz questão de sempre ter à mesa alimentos saudáveis porque reconhece a importância deles para manter o viço da epiderme.

Mas, além das pílulas de beleza, outras novidades estão a caminho. No próximo mês, chega ao Brasil a linha Happylogy, da francesa Guerlain. Segundo a empresa, o produto causaria na pele os mesmos efeitos provocados pela endorfina, substância que propicia bem-estar e relaxamento. “Ela também deixa a pele mais radiante, com expressão suave”, afirma Patrícia Silveira, treinadora nacional da Guerlain no Brasil. Ao imitar esses efeitos, o Happylogy ajudaria a suavizar linhas de expressão e devolveria mais viço e brilho à cútis. Ou seja, a felicidade estaria estampada na pele.

Ataque aos novos inimigos

Poluição, vida agitada, cansaço. Não há beleza que aguente tanta pressão. Pensando nisso, a indústria de cosméticos investe no lançamento de produtos que, de acordo com as empresas, atenuam os efeitos nocivos dos poluentes e do stress sobre a pele. A tendência é mundial. A marca francesa Givenchy, por exemplo, colocou no mercado o Fluide Protecteur Anti-Pollution. A Clarins, também da França, criou o Multi-Active Jour Protection Plus, indicado para proteger a cútis das impurezas atmosféricas, assim como o item da Givenchy. 

No Brasil, a Natura, uma das principais companhias do setor, incluiu na sua lista de produtos a linha Faces Cuidados Anti-stress, composta por artigos que, segundo a empresa, diminuem os estragos causados pelo stress e pela poluição. Isso sem falar nos cosméticos que prometem aumentar a sensação de bem-estar, como os lançados pelo O Boticário na linha Bom Dia! Boa Noite! Entre as novidades estão um gel para ser aplicado em massagens anti-stress e um
aromatizador de ambiente para garantir um ritual de calma na
hora de dormir. De acordo com o fabricante, os produtos contêm extratos naturais de ervas conhecidas por seus poderes relaxantes, como a Valeriana e a Melissa.
     
O lançamento desse tipo de produto responde a uma demanda cada vez maior dos consumidores. “As pessoas estão muito mais expostas ao stress e às agressões do ambiente. E isso se reflete na pele, que fica mais abatida, sem viço”, afirma Luciana Villa Nova, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos da Área da Pele e Proteção Solar da Natura. De fato, tanto o stress quanto a poluição são inimigos da epiderme. “Já é consenso que o stress crônico afeta o organismo. A pele também sofre duramente com isso”, diz o dermatologista Francisco Tausk, professor da Universidade
Johns Hopkins (EUA).

No entanto, há quem duvide dos efeitos reais destas novidades, muitas delas enriquecidas com vitaminas e minerais. “Sabe-se, por exemplo, que vitaminas, como a C e a E, ajudam a combater os radicais livres, moléculas que prejudicam a pele. Mas não sei se topicamente elas funcionam”, pondera o dermatologista Ricardo Fenelon, de Brasília.

Ah, quem dera!
 
Há alguns meses foi lançado nos EUA um creme que está dando o que falar. O DNA Face Cream seria feito a partir da análise da carga genética do cliente, de acordo com o laboratório Lab 21, responsável pela invenção. Dessa forma, garante a empresa, o produto respeitaria as necessidades da pele de cada um. Em entrevista a ISTOÉ, Jennifer Alderson, vice-presidente do Lab 21, explicou o processo. “Colhemos uma amostra da secreção bucal da pessoa, depois analisamos a carga genética e dali retiramos as informações sobre a pele. Esses dados são processados por um computador, que indica as concentrações e os ingredientes adequados para o indivíduo”, afirma. Na teoria, parece bonito, mas, na prática, o creme é visto com ressalvas. “É impossível fabricar um produto como esse. Não se sabe ainda quais genes estão relacionados às características da pele”, diz o geneticista Salmo Raskin, do projeto Genoma Humano. Para a dermatologista Denise Steiner, de São Paulo, usar um creme personalizado pode ser sedutor, mas isso ainda não é possível. “O que a empresa oferece vai além dos conhecimentos da ciência”, critica.

Lia Bock


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