Quando a comissão de frente da escola de samba Acadêmicos do Grande Rio iniciava seu desfile na madrugada da segunda-feira de Carnaval, os executivos da Companhia Vale do Rio Doce já cantavam vitória. No camarote da supermineradora, patrocinadora da escola de Joãosinho Trinta, a alegria dos executivos da empresa era contagiante. Não era para menos. Enquanto a escola defendia o samba-enredo O Brasil que valeu, o diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli, comemorava com os chineses o contrato de US$ 30 milhões assinado com o presidente da Beitai Iron and Steel, Yang Xinhua.

Foi literalmente um negócio da China: um dos cinco maiores grupos siderúrgicos daquele país vai importar dois milhões de toneladas de minério de ferro da empresa brasileira. É o começo de uma promissora relação comercial. A Beitai quer, a partir do próximo ano, dobrar a importação da Vale e manter o contrato de fornecimento pelos próximos dez anos. A China já ocupa um papel de destaque entre os parceiros comerciais da Vale no Sudeste Asiático, perdendo o posto de líder apenas para o Japão. “Temos a maior reserva de minério de ferro do mundo e a de melhor qualidade. Vamos investir para aumentar nossa produção e atender os chineses”, comemorava Agnelli, enquanto arriscava um samba no pé na Marquês de Sapucaí. “Teremos um grande 2003”, antecipava o anfitrião da festa, que recebeu no camarote cerca de 300 clientes internacionais. Os R$ 6 milhões gastos pela Vale para patrocinar a Grande Rio fez parte do jogo de sedução para conquistar novos parceiros comerciais. A estratégia começou a render dividendos. A escola ficou em terceiro lugar, à frente de grandes e tradicionais agremiações e atrás apenas da campeã, Beija-Flor, e da vice, Mangueira, a empresa assinou um negócio bastante lucrativo e anunciou que um novo contrato ainda mais vantajoso será anunciado nesses dias com uma parceira européia.

A qualidade do minério de ferro brasileiro é reconhecida no mundo todo e a siderurgia chinesa cresce num ritmo compatível com o de um país que vem desafiando a desaceleração da economia mundial. O Sudeste Asiático já é responsável por 44% das exportações da Vale. Desde o descruzamento das ações com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Vale vive um de seus melhores momentos, tendo registrado em 2002 um lucro de R$ 2 bilhões – o terceiro maior de sua história.


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