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1929 O crash da Bolsa de Nova York causou falência de empresas e desemprego em massa. As pessoas entraram em pânico. Venderam bens a qualquer preço. Teve repercussão mundial

 

Ninguém sabe qual será o tamanho da crise deflagrada pelo setor imobiliário nos EUA. Investidores e o mercado financeiro estão apreensivos com o rumo que ela poderá tomar, mas a população aparenta não perder o sono com o cenário, a menos que a tormenta passe a interferir diretamente no cotidiano. É nisso que acreditam especialistas de diferentes segmentos consultados por ISTOÉ. “Um quadro com oscilação de Bolsas e quedas localizadas, mas sem influenciar o emprego, não sensibiliza as classes sociais”, diz o sociólogo Ricardo Antunes, professor da Unicamp.

O antropólogo Antônio Testa, da Universidade de Brasília, afirma que para a classe média esta é apenas mais uma crise que será contornada, desde que o consumo e o acesso a crédito continuem em ordem. Ela acompanha o noticiário à distância. Entre os mais pobres, haverá impacto se empresas começarem a demitir e o governo fizer cortes nos programas sociais. “Mas o brasileiro se comporta como torcida de futebol. Pode se frustrar ao perder um jogo, porém transfere para o seguinte a realização de seus desejos”, completa. Segundo o psicanalista Mauro Mercadante, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, há três reações que podem surgir se a situação se prolongar: o pânico, a indiferença e o exagero nas ações (devido à exigência de respostas prontas diante de um possível caos). Ele aposta no último tipo. “Na exacerbação, as pessoas tomam atitudes imaginando que vão ajudar. Vendem ações, compram dólares como se isso fosse resolver a crise”, diz.

Tormentas econômicas sempre surgem, mas algumas deixam marcas históricas. Foi o que aconteceu com o Crash de 1929, a quebra da Bolsa de Nova York. Era um período de euforia alimentada por um sistema artificial de valorização das ações. Em outubro, o castelo ruiu: empresas faliram e o desemprego se alastrou. Outro problema que afetou a população foi a crise do petróleo, na década de 70. Com o preço do barril nas alturas, foi necessário economizar combustível. Para Francisco Coelho, presidente da Ordem dos Economistas do Brasil/São Paulo, os episódios são exemplos de crises de dimensões internacionais – ele considera que o estouro da bolha da internet e a crise da Argentina não tiveram reflexos tão globalizados. Coelho encontra semelhanças entre o Crash de 29 e o cenário atual. “As fraudes já existiam naquele tempo e continuam existindo. Falta qualidade nos mecanismos de controle do mercado”, afirma. A turbulência imobiliária surgiu no crédito subprime (clientes com histórico ruim). Cadastros dessas pessoas foram feitos por brokers e muitos fraudaram dados. Na visão de outro economista, Ilan Goldfajn, da PUC-Rio, a inadimplência nos empréstimos hipotecários evoluiu de um problema específico para um fenômeno global em que ainda se desconhece quanto se está perdendo. “Isso levou a uma falta de confiança no mercado financeiro”, afirma. O perigo está em a crise de confiança se aprofundar e provocar os abalos tão temidos pela população.

 

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1973 O fornecimento de petróleo aos EUA foi cortado e virou a gota d’água para um quadro que exigia ajustes na economia. A crise se aprofundou e atingiu outros países

 

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2001 A inflação na Argentina disparou e a economia se esfacelou. Crack de bancos, falta de empregos e confisco da poupança geraram quebra-quebra. Mas não virou crise mundial real