Chegamos! Em frangalhos, mas chegamos. Ainda confuso pela jornada, pela precoce saudade e pelo fuso, começo a relatar aqui as experiências, os micos e as histórias engraçadas que eu e a equipe de ISTOÉ vamos viver nesta Olimpíada de Londres. E, para nós, os Jogos já permitiram a queda de alguns recordes pessoais.

O primeiro deles foi o de resistência. Minhas articulações, ligamentos, músculos e ossos sobreviveram a 12 horas de zippagem em uma poltrona que motivaria um pigmeu a clamar por um upgrade. Mas essa não foi a prova mais difícil. O estômago teve de se mostrar bem mais preparado que os órgãos citados no começo deste parágrafo.

No cardápio do jantar, a TAP oferecia frango ou massa. Apesar de nem a Alitalia servir um macarrão decente, optei pela segunda alternativa. Caso esteja lendo este texto em um escritório, ensino aqui uma receita para que você possa reproduzir o prato:

Ingredientes
Um saquinho de elásticos de dinheiro
Um pincel atômico vermelho
¼ de borracha escolar verde
Uma folha de sulfite

Preparo
Coloque o saquinho na janela sob a luz do sol por 20 minutos
Tire uma fotocópia em branco para aquecer a folha de sulfite. Reserve
Fatie a borracha em tiras finas
Abra o saquinho e despeje os elásticos sobre a folha de sulfite
Pincele rusticamente a tinta vermelha sobre os elásticos
Decore com a borracha fatiada
Sirva quente

Rendimento
Uma porção

Sabores e texturas à parte, o repasto forneceu energia suficiente para que enfrentássemos a maratona que seguiria. Depois do organizadíssimo e acelerado processo de liberação no aeroporto, tínhamos de decidir como percorrer a distância que nos levaria até a Victoria Station, centro da cidade, a dez minutos de caminhada do nosso hotel. Somos quatro homens e oito malas. As opções eram gastar uma centena de libras para ir confortavelmente numa van ou o transporte público. Por medida de economia, decidimos ir de metrô.

Aboletados no fim do trem, amontoamos nossas malas. O trem foi enchendo, e os ingleses não conseguiram manter a discrição. Olhavam curiosos para aquele grupo de paus-de-arara do século XXI. Para combater o constrangimento, pensei em iniciar um batuque nas nossas malas, mas fui dissuadido pelos meus colegas.

Duas estações antes do destino final, começamos a vencer a multidão e a nos aproximar da porta do trem. Foi o momento da nossa primeira lição intensiva de inglês britânico: sem uma boa quantidade de excuse mes não se vai a lugar nenhum por aqui.

Chegou a nossa estação. Uma muçulmana com carrinho de bebê diante da porta era o último obstáculo, vencido por um plural excuse us. Hora de ir para a superfície e diagnosticar o quanto os ingleses são econômicos no quesito escadas rolantes. Superamos vários lances carregando duas malas cada um. Na rua, não houve trégua. Driblamos transeuntes, saltamos por meio-fios inclementes, fomos ao limite das nossas forças e humor. Mas chegamos.

Em meio a tanto esforço deu para ver que a cidade está linda. Atletas de delegações obscuras, outdoors, vendedores de passeios turísticos, o papo nos pubs e a fartíssima oferta de policiais registram o clima olímpico que toma conta até do ar por aqui.

Depois de nos acomodar no hotel, tomar um banho e avisar a família de que não vale a pena comprar iPad em Londres, fomos almoçar no pub St. George, a uma quadra do hotel. Não resistimos ao clichê do fish and chips. E agora me ponho a imaginar uma maneira para que você possa reproduzir esse prato com o material do escritório.

Mas não vai rolar. O cansaço é grande. Pequeno se comparado com o que nos espera nos próximos dias. Quem viver lerá.