O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, não é piloto, mas sabe evitar turbulências aéreas. Ele não pretende enviar representante à reunião do Conselho de Defesa, prevista para o final deste mês, em que será escolhido o novo caça da Aeronáutica, um contrato de US$ 788 milhões. A escolha será feita entre cinco aeronaves: o americano F-16, o russo Sukhoi Su-35, o francês Mirage 2000-5Br (do consórcio Embraer/Dassault), o sueco JAS 39 Gripen e o russo MiG-29. A informação foi dada a ISTOÉ pelo deputado José Genoino (PT-SP). Para o parlamentar, não teria sentido o novo presidente ter um representante na reunião apenas para dar respaldo a uma decisão do atual governo, sem condições de influir na escolha. “O presidente Fernando Henrique Cardoso deveria adiar a reunião para o próximo governo. É um projeto para a defesa do País, que envolve interesses da indústria brasileira, não é nenhuma sangria desatada para ser tratada com tanta urgência”, disse Genoino. É bom lembrar que, seja qual for a decisão de Fernando Henrique, caberá ao governo Lula assinar o contrato para a compra do novo caça. “O governo Lula começa no dia 1º de janeiro, e agora estamos com uma transição técnico-administrativa e temos de ter cautela”, disse o deputado.

O brigadeiro Cherubim Rosa Filho, ministro do Superior Tribunal Militar, confirmou que não há mais tempo para a assinatura do contrato no atual governo. Genoino disse que o presidente eleito vai apoiar os projetos estratégicos das Forças Armadas e admitiu que a licitação para a compra dos caças da Aeronáutica nem seria necessária: “Tratando-se de material de Defesa, bastaria uma avaliação do Estado-Maior e do comando da Aeronáutica sobre qual avião a Força Aérea precisa para defender a soberania.” O ex-ministro da Aeronáutica do governo Fernando Henrique Cardoso, brigadeiro Mauro Gandra, endossa a sugestão: “Um decreto presidencial, assinado pelo próprio FHC, permite que material de Defesa seja negociado sem licitação, como foi o caso recente da aeronave que está sendo encomendada à empresa espanhola Casa.” Gandra lembrou a concorrência feita pelos Estados Unidos, na década de 90, para a aquisição de aviões de treinamento. “Naquela ocasião, o excelente Super Tucano brasileiro perdeu para um avião de uma empresa americana.”

Quanto ao avião Kfir, que a Aeronáutica poderá alugar para que a Base Aérea de Anápolis não fique ociosa até a entrega dos novos caças, em 2006, ISTOÉ teve acesso ao documento que define a oferta da empresa israelense IAI. O leasing da aeronave custaria US$ 90 milhões, por quatro anos, período em que a empresa de Israel será obrigada a garantir a manutenção dos 12 aviões alugados. O modelo oferecido é o Kfir C-10, equipado com sistema de radar de quarta geração. Os aviões seriam fornecidos em seis meses. O brigadeiro Gandra não é favorável ao leasing do Kfir. Para ele, o fato de a aeronave ter mais de 30 anos deixa a escolha muito longe de um consenso interno. Gandra diz que não vale a pena aumentar o desgaste já causado à Força Aérea Brasileira pela escolha de aviões.