O aumento do preço da comida, o maior desde 1994, saiu das casas de família, provocou protesto da maior rede varejista do País, o Pão de Açúcar, alcançou a Bolsa de Valores de São Paulo, arrepiou investidores-especuladores estrangeiros que sobrevoam o mercado brasileiro e foi parar na boca de Antonio Palocci, coordenador da equipe de transição do futuro governo. “O governo Lula lutará implacavelmente contra a inflação”, disse Palocci. Vai ter
que lutar mesmo porque os preços, se ainda não estão descontrolados, com aumentos de 80% no arroz e 77% no açúcar, caminham celeremente para um desastre. No IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de parâmetro para o sistema de metas de inflação, apresentou forte alta em outubro, 1,31% (impulsionado principalmente pelo aumento do dólar), o que eleva o índice de inflação de 2002 a 6,98%, superando com folga a meta de 3,5% estabelecida pelo  governo para 2002. A disparada é atribuída ao aumento nos preços dos alimentos, 2,79%, a maior alta desde 1994, o ano do Plano Real. E o andar da carruagem indica que o País pode chegar a 31 de dezembro com uma taxa de 9%.

A pressão do dólar sobre o preço dos alimentos também foi o motivo da alta recorde registrada na inflação de outubro calculada pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No mês passado, o indicador ficou em 4,21%, a maior  taxa desde fevereiro de 1999, mês seguinte à desvalorização do real, quando o índice apontou inflação de 4,44%. Outro alerta: a alta dos alimentos em 30 dias, até 7 de novembro, medida pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) em São Paulo, foi de 4,07%, também a maior desde o início do Plano Real.

Os investidores estrangeiros observam esses números e saem voando. O balanço dos investimentos estrangeiros na Bolsa de Valores de São Paulo nos primeiros dez dias de novembro revela saída de capital externo de R$ 12.128.780. No acumulado no ano, o saldo negativo
atinge R$ 2.009.899.850 em 8 de novembro.

Na linguagem dos analistas, “o mercado está volátil”, ótimo verbete para o divertido glossário do colunista José Simão, da

Folha de S. Paulo

. O dólar sobe porque há muitos vencimentos de dívidas cambiais até o fim do ano (e os investidores-relâmpago pressionam as cotações para garantir uma remuneração elevada no eventual resgate dessa dívida), a gasolina sobe com o dólar, os alimentos sobem com a gasolina e a inflação avança além do limite da prudência. Com inflação em alta, especula-se sobre uma possível elevação da taxa de juros Selic (que subiu de 18% para 21% em outubro), a taxa básica que tem influência sobre os juros de toda a economia, na reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom). A esperança de dias melhores fica para 2003. O economista Guido Mantega, assessor econômico do PT, prevê redução da inflação já a partir de janeiro. É esperar para ver.

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