Jimmy Hoffa nasceu em Brazil, e, talvez por isso, houve quem espalhasse o boato de que ele havia fugido para o Brasil com uma go-go girl, em julho de 1975. Tudo bobagem, é claro. O homem nasceu em 1913 no Estado americano de Indiana, numa cidade chamada Brazil. Ele foi um importante dirigente sindical, lutou com tenacidade por direitos civis e econômicos de seus companheiros, desafiou os donos do poder e foi preso por isso. Hoffa foi um líder dos oprimidos, mas também tinha ligações com a máfia. Aqueles que assistiram ao filme Hoffa (1992), com Jack Nicholson no papel principal, entendem tal mistura. O enredo é uma biografia romantizada do sindicalista mais famoso dos EUA, mas que não deixa dúvidas sobre suas ligações com mafiosos. E essa associação provou-se fatal: Jimmy foi morto há 31 anos e seu corpo desapareceu. Já procuraram nos locais mais improváveis. O mafioso Anthony Salerno jurou que o corpo de Hoffa estava na zona do gol no estádio dos Giants, em New Jersey. Salerno estava cumprindo pena de 102 anos quando contou esta história e ele pretendia colaborar com as autoridades para diminuir sua sentença. Foram feitas escavações em duas áreas da extremidade do gramado e o meio de campo. Nada foi encontrado. Outras improváveis últimas moradas do corpo do sindicalista incluem: o lixão de Fresh Kill, em Staten Island, que foi devidamente vasculhado; a funilaria de um automóvel Chevrolet, à qual teria sido misturado durante a moldagem da lataria. Hoffa poderia até estar no túmulo de Elvis Presley, que estaria vivo e escondido.

Na segunda-feira 22, os americanos foram surpreendidos com a notícia de que o FBI investigava o solo de uma fazenda na pacata Milford Township, um haras a 15 quilômetros de Detroit. A informação sobre o paradeiro dos restos de Hoffa teria vindo de um certo Donovan Wells, que morava no haras em 1975. Na época, a propriedade era de Rolland McMaster, um sindicalista protegido da vítima. A hipótese mais aceita é de que Hoffa foi assassinado no estacionamento do restaurante Machus Red Fox, a nove quilômetros de onde as escavadeiras agora trabalham. McMaster – que está cumprindo pena por tráfico de maconha em Kentucky – contribuiu para a nova busca, confessando que havia ajudado a enterrar o ex-líder e amigo, com quem ele estava rompido.

Hoffa talvez tenha sido o líder sindical mais importante do trabalhismo americano. Comandava os
“Teamsters”, a central que reúne
os empregados do setor de transporte. Nessa categoria estão incluídos desde motoristas até estivadores, passando
por mecânicos, frentistas de postos de combustível, empacotadores e mais centenas de funções. Eleito à presidência da entidade de classe em 1952, Hoffa
era idolatrado e conseguiu avanços legislativos de proteção a seus comandados, aumentos de salários, estabelecimento de planos de
saúde, carga horária decente e
seguro-desemprego.

A máfia, vendo oportunidades de bons negócios no setor, impôs sua vontade ao comando da categoria. Hoffa sucumbiu e tornou-se aliado importante do crime organizado. “Sob o comando mafioso, era possível paralisar toda a economia do país com uma greve de transportes. A contratação de trabalhadores, pelas empresas, passava pelo crivo do sindicato”, diz o historiador Donald Trivers. Conta-se que a eleição de John Kennedy, em 1960, só foi possível depois que a máfia corrompeu as urnas de Chicago, e Hoffa mandou os Teamsters votarem no candidato democrata e quebrarem a cabeça dos que preferiam Richard Nixon.

Se Hoffa esperava recompensas por ser cabo eleitoral, o governo Kennedy foi, no mínimo, uma decepção. O titular da Pasta da Justiça, Robert Kennedy, irmão do presidente, fez uma caça às bruxas mafiosas e centrou fogo também nos Teamsters. As investigações levariam à condenação de Hoffa a 15 anos de prisão em 1967. A pena foi comutada em 1971. Hoffa voltou à ativa na política sindical, mas os tempos eram outros e a máfia já não queria uma figura carismática, mas queimada, como ele. Em 30 de julho de 1975 ele sumiu do mapa.