Ao terminar Mulheres apaixonadas, com altos
índices de audiência, o autor Manoel Carlos
Gonçalves de Almeida anunciou à sua família
que aquela seria a sua última novela. E, como aconteceu após Sol de verão e Laços de família, descumpriu a promessa. Paulista radicado no
Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, três casamentos, seis filhos e quatro netos, Maneco, como é chamado pelos amigos, voltará aos 73 anos ao horário nobre da Rede Globo com Páginas da vida, novela que sucederá Belíssima. O autor recebeu ISTOÉ em Petrópolis, onde costuma se isolar para escrever.

ISTOÉ – Qual a história de Páginas da vida?
Manoel Carlos Gonçalves de Almeida –
Como o nome indica, serão muitas histórias. Inaugurei essa modalidade com Mulheres apaixonadas, que tinha mais de 100 personagens e 15 tramas diferentes. Páginas da vida gira em torno de um casal de gêmeos, em que o menino nasce normal e a menina com a síndrome de Down. Essa menina será disputada por duas mulheres, Helena (Regina Duarte), uma ética obstetra, e Olívia (Ana Paula Arósio), uma mulher que não valoriza a fidelidade.

ISTOÉ – O sr. perdeu um filho vítima de Aids. Esse tema estará presente?
Manoel Carlos –
Perdi Ricardo aos 33 anos, em 1988. Foi o momento mais doloroso da minha vida, desses insuperáveis. Morte de filho você não chora a vida inteira porque a partir de um certo momento não tem lágrimas para chorar. É como perder a metade de si mesmo. A mais rica. Na novela coloquei um hospital dirigido por religiosas de uma ordem fictícia que aceita a internação de um doente e quando descobre que ele tem Aids quer expulsá-lo.

ISTOÉ – Essa é a primeira direção de Jayme Monjardim desde a
divergência dele com a autora Glória Perez?
Manoel Carlos –
Sim. Jayme foi a minha primeira escolha. Quando ele ainda estava dirigindo América, eu já havia dito isso a Mário Lúcio Vaz, diretor artístico da Globo. Com o afastamento, coube ao próprio Jayme decidir. Ele garantiu a sua presença e minha opção foi saudada por toda a emissora.

ISTOÉ – E o par romântico de Ana Paula?
Manoel Carlos –
Edson Celulari faz Sílvio, um militar da ativa, tenente-coronel da Aeronáutica, que ama o pólo como esporte. Homem sedutor, vivido, viajado. Os dois são apaixonados, mas, obviamente, o comportamento de Olívia o preocupa bastante.

ISTOÉ – Agora, saindo do mundo do faz-de-conta, o sr. já escolheu seu
candidato à Presidência?
Manoel Carlos –
Eu já sei em quem não vou votar: no Lula. Nunca fui PT, mas sempre fui Lula. Como ele se deixou envolver e continua declarando  ignorar o
que acontecia à sua volta, sua parcela de culpa e de incompetência acabou ficando maior que a do partido. 

ISTOÉ – O sr. passa 15 meses escrevendo e quatro viajando. Tem algum
desejo a ser realizado?
Manoel Carlos –
Conhecer a Grécia, cuja viagem estou programando para julho do ano que vem. E voltar a Praga. Sempre.