Os paulistas descobriram, da noite para o dia, que são altamente vulneráveis nas ruas, ficando dias à mercê da violência do crime organizado. Mas o Brasil ainda está para perceber que grande parte de suas riquezas, como a produção de petróleo e o comércio externo, está numa situação semelhante a um banco cujo cofre forte está do lado de fora. Senão, vejamos: com uma costa de cerca de oito mil quilômetros, o Brasil tem 85% de sua produção de gás e petróleo no oceano, através de grandes plataformas desenvolvidas pela Petrobras. E 81% das exportações brasileiras, que totalizaram US$ 118 bilhões em 2005, foram feitas por via marítima. Isso significa 378 milhões de toneladas de mercadorias. Das importações, que atingiram US$ 80 bilhões, 75% foram transportadas por navios. Se por hipótese algum país ou força hostil pretendessem bloquear o Brasil, teriam mais facilidade, através da interrupção desse fluxo, do que os bandos criminosos têm de bloquear São Paulo ou o Rio de Janeiro.

Para países como o Brasil, de grande extensão continental e relativa pobreza
de recursos financeiros, a alternativa para a defesa dos mares é investir em marinhas equipadas com submarinos, a única arma capaz de exercer poder de dissuasão sobre eventuais atacantes – e de preferência a propulsão nuclear,
quase impossíveis de ser localizados. A Marinha do Brasil fez um trabalho pioneiro desde o final da década de 70: conseguiu, através do centro de pesquisa em
Aramar (SP), construir um reator nuclear de 50 megawatts, capaz de realizar a propulsão de um grande submarino, bem como foi capaz de desenvolver tecnologia para a produção do combustível (urânio enriquecido) através de ultracentrifugadoras. Falta só fazer o submarino nuclear – isto é, movido a energia nuclear. Com o
objetivo de aprender a construí-lo, o Brasil adquiriu cinco submarinos convencionais alemães modelo ILW (U-209) – um feito na Alemanha e os demais montados no País. A Marinha brasileira, contudo, descobriu que não era tão simples passar de
um casco convencional de 1.600 toneladas na superfície, com 6 metros de diâmetro e 67 metros de comprimento, para uma plataforma em aço especial, com mais
de 9 metros de diâmetro e 80 de extensão, como requer um submarino de
propulsão nuclear.

Como a Marinha vem sofrendo há anos, como as demais Forças Armadas, as agruras do contingenciamento de verbas, o programa do submarino nuclear vem sendo mantido em banho-maria. Enquanto isso, a nossa frota submersa convencional está quase obsoleta, sem sistema de combate e sem torpedos. Por isso, a Marinha iniciou os preparativos para comprar um sexto submarino convencional. Mas para valorizar o investimento feito no desenvolvimento do setor – que já custou ao País cerca de US$ 1 bilhão desde 1979 – o Brasil precisaria fazer dessa compra um trampolim que lhe permita um salto tecnológico. Mas na própria Marinha há quem defenda a compra de mais um submarino como os nossos. Na próxima semana, quando o presidente francês, Jacques Chirac, estiver no Brasil, esse tema certamente será abordado. Ponto a favor dos que defendem o salto tecnológico. Afinal, a França já manifestou interesse em vender um submarino que permitirá nosso desenvolvimento e se compromete a transferir toda a tecnologia. Como fez a Força Aérea na elaboração do projeto F/X, a aquisição de um novo submarino só tem sentido caso os fornecedores se comprometam a transferir tecnologia. Caso compremos outra caixa preta, a aquisição de um novo submarino pelo Brasil vai apenas criar mais empregos. Na Europa.


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