Tom Cruise fez mesmo uma missão impossível. Marqueteiro informal e incansável da Igreja de Cientologia, ajudou a tornar mais popular a
ramificação brasileira da religião, que não tem um Deus, mas um guru, o engenheiro, matemático e físico americano Ron Hubbard (1911-1986), um senhor rosado, bochechudo, com semblante afável, autor de mais de 500 livros, alguns deles de ficção científica. A pregação exacerbada de Cruise fez com que os dois centros da igreja em São Paulo, nos bairros da Vila Mariana e do Tatuapé (há também um grupo em Jundiaí, no interior do Estado), recebessem nos últimos dias centenas de interessados, uma ampliação de até 30% do movimento costumeiro. Com o providencial empurrão do astro hollywoodiano, os planos de expansão se estendem para Salvador e Rio de Janeiro, onde, dentro de algumas semanas, os cientologistas brasileiros vão organizar concorridos movimentos de divulgação.

Embora eles não gostem de ser tratados como a igreja dos famosos – no Brasil faltam celebridades de ponta em seus quadros –, Cruise e John Travolta, outro adepto estelar, são sempre citados como referências pelos visitantes. “Há mais famosos entre judeus, católicos e evangélicos”, diz o advogado venezuelano Randolph Sambo, 45 anos, ministro voluntário da Cientologia no Brasil. Ele trouxe a doutrina para o País, ao lado da mulher, a ex-veterinária Lúcia Winther. O objetivo da religião, segundo ele, é “limpar” os traumas acumulados na vida e se tornar mais racional, com muito estudo, leituras, palestras e cursos – estes pagos. O objetivo não é proporcionar conforto instantâneo, mas, no sufoco, os ensinamentos podem ajudar a resolver problemas rotineiros como rusgas em casa ou dificuldades no trabalho.

O fato de Randolph ser venezuelano se explica. No país de Hugo Chávez a igreja está muito mais desenvolvida, até porque existe muito mais material em espanhol sobre o assunto. Hoje, seis brasileiros estudam na Venezuela para se tornarem ministros. A matriz é em Los Angeles e a administração segue os moldes da hierarquia de uma empresa. No Brasil, a editora Ponte, em São Paulo, braço da igreja, vende as obras de Hubbard, algumas em português de Portugal. Quem chega disposto a ingressar na doutrina é aconselhado a responder a um questionário com 200 perguntas, algumas um tanto curiosas. A de número 184, por exemplo, inquire: “A vida lhe parece um tanto vaga e irreal?” Se o candidato tiver paciência de responder tudo estará apto para obter a ampliação da sua consciência. E, de certa forma, virar “irmão” de Cruise e Travolta