Não é de hoje que os serviços públicos deixam a desejar, especialmente nesses tempos de cobertor curto e dívidas impagáveis. Mas os governos federal, estaduais e municipais acabam de ganhar um instrumento importante para conhecer a avaliação que os contribuintes fazem dos serviços pelos quais pagam cada dia mais caro. Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com 2.988 cidadãos de nove capitais e 92 municípios comprova que os brasileiros estão bem insatisfeitos. Apenas a coleta de lixo recebeu uma média acima de 70, firmando-se como o melhor desempenho do poder público. A saúde, com 58, e a regulação das posturas municipais (controle dos camelôs, mesas de bar e lojas), com 57, aparecem em último lugar. A coleta de dados foi feita em novembro do ano passado, mas o resultado só foi divulgado agora para a ISTOÉ.

A FGV pediu aos entrevistados que dessem uma nota de zero a 10 para cada um dos 11 serviços públicos selecionados. A média foi transferida para uma escala de zero a 100 para seguir um padrão internacional. As capitais escolhidas foram São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Fortaleza, Recife e Vitória. Os moradores de Vitória aparecem como os mais satisfeitos – ou menos insatisfeitos. Eles deram uma média de 69 pontos para os serviços. “O fato de a maior média ser de 69 mostra que os serviços do Estado deixam a desejar”, avalia o coordenador da pesquisa, Zairo Borges Cheibub. No Brasil, a média foi de 65 pontos.

Os paulistanos foram especialmente impiedosos com os responsáveis pela saúde pública: 37 pontos. A desorganização de camelôs, mesas de bar e bancas de lojas também foi condenada com o rigor: 38 pontos. A coleta de lixo (77 pontos), o serviço de água (64) e de esgoto (59) receberam em São Paulo as melhores avaliações – e mesmo assim nada generosas. Os cariocas também não parecem satisfeitos com a saúde, que recebeu 48 pontos. Para eles, o segundo pior serviço é o da polícia, que recebeu 52 pontos, a mesma nota dada pelos paulistas.

O objetivo da pesquisa, que deverá ser feita a cada seis meses, é contribuir para a definição de prioridades dos governos. O trabalho não se limitou a medir o nível de satisfação. Usando uma fórmula de padrão internacional para avaliar o Índice de Prioridade de Investimento (IPI), a FGV mediu também a opinião sobre os investimentos públicos que devem ser feitos em cada área. Quanto maior a pontuação, maior é, na opinião dos entrevistados, a prioridade de investimentos em cada setor. A saúde aparece como o mais carente, com 86 pontos, seguida pelas escolas, com 81. Os serviços de água (72) e esgoto (71) vêm logo depois, ainda à frente dos investimentos em polícia (66). Os setores que menos precisam de recursos seriam a limpeza das ruas e calçadas (50), os espaços de lazer (47) e o controle de camelôs, mesas de bar e bancas de lojas (33), apesar de ser o serviço mais rejeitado. Fica claro que, para quem paga imposto, um bom serviço às vezes depende mais de vontade e competência do que de recursos.