Mais bem-humorado dos Beatles, o guitarrista George Harrison, morto de câncer em novembro do ano passado, pensava nomear seu último álbum, no qual trabalhou até dois meses antes da morte, de Portrait of a leg end, saboroso trocadilho com sua condição de lenda do rock. Mas o filho Dhani e o guitarrista Jeff Lynne, que pilotaram a produção, preferiram ficar com Brainwashed, nome de uma das 12 faixas do CD, que tem lançamento mundial na terça-feira 19. Onze delas são inéditas. A restante, Between the devil and the deep blue sea, é um clássico da dupla Harold Arlen e Ted Koehler, já gravada por uma dezena de feras do jazz.

A versão de Harrison para a pérola dos musicais é um dos pontos altos do álbum. Mas a legião de fãs, sedenta por composições inéditas desde Cloud nine, de 1987, não terá do que reclamar. À exceção de alguns blues, a maior parte do novo material se encaixa no formato de canções como My sweet lord e Give me love (give me peace on earth), marcadas pela slide guitar chorosa e pelo vocal sempre carregado de emoção. É o caso das belas Pisces fish e Stuck inside a cloud, a favorita do ex-beatle.

Harrison tinha verdadeira obsessão pelo ukelele, espécie de banjo
que ele inclusive ensinou pilotos de Fórmula 1, outra de sua paixão, a tocar – Gerhard Berger foi um dos privilegiados. O toque alegre do instrumento aparece logo na abertura, no country rock Any road,
que traz o verso: “Se você não sabe para onde está indo/ qualquer caminho vai levá-lo para lá”, canta ele, antecipando de forma nobre
o seu fim que se anunciava.


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