Um metalúrgico, beirando os 40 anos, chega de madrugada na estação de trens de Helsinque, na Finlândia. Enquanto espera o amanhecer, adormece num banco de praça. É acordado por impiedosos golpes de um bando de skinheads, que rouba os melhores pertences de sua mala. Além das poucas posses, o homem vivido por Markku Peltola também perde a memória. Internado em coma, cura-se, mas esquece o passado. Sem documentos e sem lembrar sequer o nome, passa a viver num contêiner abandonado, entre os sem-teto da região portuária da cidade. A partir desta situação-clichê, o diretor finlandês Aki Kaurismäki realizou um pequeno grande filme sobre o universo dos deserdados. Sua inspiração mais forte veio dos melodramas clássicos, subvertidos com maestria pelo estilo distanciado, pelos diálogos desconcertantes e pelas situações antinaturalistas. O resultado lembra as fitas de temática proletária do alemão Rainer Werner Fassbinder. Em 2002, O homem sem passado ganhou o grande prêmio do júri do Festival Internacional do Filme de Cannes. No dia 23, concorre ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Como não cede aos apelos fáceis, deve ser esnobado. O que, no caso, é mais que um elogio. (Ivan Claudio)