Quando rememorava algumas passagens da sua meteórica vida de cantora, Celly Campello ruborizava sem explicações. Era como se carregasse a culpa pelo sucesso de uma carreira que durou apenas quatro anos, mas que enlouqueceu a juventude do final dos anos 50 e início dos 60 com canções como Banho de lua, Estúpido cupido ou Lacinhos cor-de-rosa. Aliás, a quem lhe perguntasse sobre o porquê do título desta última, ela desdenhava: “Nunca tive sapatos com laços cor-de-rosa.” Como uma Greta Garbo dos primórdios do rock, Celly Campello se recolheu no auge da fama para casar. Virou mito, em parte talvez pela atitude extremada que à época deixou milhares de fãs desconsolados. Agora o mito descansa. Celly morreu na terça-feira 4, aos 60 anos, derrotada numa batalha contra um câncer de mama detectado em 1996. A cirurgia para remoção do tumor e a quimioterapia extirparam a doença localizada, mas o mal voltou a aparecer na costela. Ela estava internada no Hospital Samaritano de Campinas, no interior paulista, onde morava. Seu corpo foi enterrado na quarta-feira 5 na mesma cidade. A cantora que deu o chute inicial para a formação do pop rock tupiniquim completaria 61 anos em 18 de junho.

Reclusa e sem a menor saudade do passado que guardava em baús, longe da vista das pessoas, Celly ensaiou algumas voltas à vida artística. A primeira aconteceu em 1976, quando a novela da Rede Globo Estúpido cupido, de Mario Prata, fazia enorme sucesso recontando de forma bem-humorada a vida de uma cidade de interior nos anos 60. Com a música tocando sem parar, seu retorno aos palcos era inevitável. “Enquanto passava a novela, em seis meses de show ganhei mais dinheiro que em quatro anos de carreira”, contou. Ela e a turma pré-jovem guarda, incluindo o irmão Tony Campello – o grande impulsionador da sua carreira –, Carlos Gonzaga, que hoje é servo ministerial das Testemunhas de Jeová, Demétrius e o já falecido Sérgio Murillo. Com os também falecidos Wilson Miranda e Ronnie Cord, eles antes integraram o elenco do programa Crush in hi-fi, apresentado por Celly e Tony na antiga TV Record. Roberto Carlos engatinhava na carreira.

Era um tempo de total inocência nas atitudes e nas canções, todas versões de sucessos americanos. Basta ouvir Túnel do amor, Billy, Broto legal ou Não tenho namorado, que nos anos 80 ganhou uma versão hilariante, em show e disco, do performer Patrício Bisso. No fim de 1991, Celly virou avó de Gustavo, filho de Cristiane, irmã de Eduardo, seus filhos com o contador aposentado Eduardo Gomes Chacon, com quem se casou em 1962 mostrando toda a certeza do mundo em trocar o microfone pela grinalda. O mais curioso é que a própria Celly Campello, dizia que seu maior defeito era a indecisão.


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