A atitude mais condenável do esporte, o doping, receberá marcação dura e sob pressão na Copa do Mundo 2006. A Fifa acaba de anunciar que acatará punições sugeridas pela Wada, a agência mundial antidoping, para jogadores flagrados com substâncias proibidas no corpo no Mundial da Alemanha. A principal mudança é o aumento do prazo de suspensão, em casos graves, de nove meses para até dois anos. Essa punição já é adotada em Olimpíadas e em todas as competições organizadas pelas ligas mundiais e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Os recursos permitidos aos atletas serão analisados com lupa.

Redução de pena só com uma defesa extremamente convincente. “Não haverá tolerância com quem usar medicamentos e componentes proibidos”, garante o diretor médico da Fifa, Jiri Dvorak. “Mais do que nunca, queremos uma Copa limpa, disputada por jogadores saudáveis”, completa. O slogan médico da próxima copa será “Uma festa de futebol livre de doping e lesões em 2006”.

A Fifa e a Wada consideram doping qualquer iniciativa para melhorar a performance do jogador fora dos parâmetros de treinamento e preparação do esporte. As tentativas de alterar ou destruir amostras de urina ou sangue para exame são também consideradas atos de doping. Os testes no futebol são feitos por amostragem. Depois das partidas, dois jogadores de cada equipe são definidos por sorteio para colher a urina. Além disso, se houver desconfiança, os médicos da Fifa poderão escolher qualquer outro atleta. A equipe médica das seleções também tem o direito de indicar um jogador adversário para os exames. Na Alemanha, a bola vai rolar entre 9 de junho e 9 de julho. Mas, de certa forma, essa Copa já tem seu primeiro caso de doping. Na fase eliminatória, o lateral-esquerdo Yamba Asha, de Angola, um dos 32 países classificados para a competição, foi suspenso por consumo de substância proibida. A Fifa não revelou o componente encontrado e deu-lhe nove meses de suspensão, o suficiente para tirá-lo da Copa.

Segundo o fisiologista Paulo Zogaib, professor de medicina esportiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex-funcionário do departamento médico de futebol do Palmeiras, as substâncias usadas para doping são basicamente os estimulantes e os esteróides anabolizantes. Consumidos para efeito imediato, os estimulantes agem nos sistemas circulatório e nervoso central. Aprimoram reflexos, aumentam a circulação e a oxigenação do sangue e diminuem as sensações de dor e de cansaço. São divididos em cinco categorias: cafeína (a mais fraca), efedrina, anfetamina, meta-anfetamina e cocaína (a mais potente). Destas, a efedrina, ingrediente ativo de alguns descongestionantes nasais, é a mais usada no futebol. No maior escândalo de doping da história das Copas, Diego Maradona, flagrado após a vitória da Argentina sobre a Nigéria por 2 a 1, no Mundial de 1994, usava este componente. O laudo da Fifa mostrou que o craque ingeriu, no dia do jogo, uma quantidade dez vezes maior de efedrina do que a média possível de ser encontrada se ele usasse a substância para desentupir o nariz.

Os esteróides anabolizantes são usados em prazos médios e longos. Aumentam a massa, a resistência, a potência e a força dos músculos. Em um mês, o usuário começa a sentir os primeiros resultados. “Ele ganha corpo rapidamente. Isso gera vantagens nos contatos físicos. E, com os músculos mais resistentes, pode treinar intensamente e chegar ao final das partidas bem menos cansado que os outros”, explica Zogaib. Os especialistas alertam: doping pode melhorar o desempenho no início, mas depois o atleta paga um preço alto, com o comprometimento de órgãos, impotência, casos de câncer e até de morte súbita. Mesmo assim, a “indústria” não pára. Um dos maiores especialistas no assunto, o médico brasileiro Eduardo de Rose, membro do comitê da Wada, acredita que entre cinco e dez anos serão possíveis coisas como a seleção de talentos de um recém-nascido, por mapeamento de genes, e até o bloqueio, por mutação genética, de uma proteína que impede o crescimento muscular. “Essa experiência foi feita em touros e a massa muscular dos animais cresceu mais de 200%”, explicou recentemente De Rose. Por tudo isso, qualquer marcação dura é justificada.