A dengue ganhou fôlego e voltou a crescer. As estimativas de abril, mês em que se registra o pico de casos da doença, mostram que em muitos municípios houve uma epidemia. O maior crescimento foi nas regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste. Em Goiás, por exemplo, na primeira semana de maio havia 16.580 casos notificados, 27% a mais do que no mesmo período em 2005. A capital, Goiânia, registrava 9.272 notificações, entre elas 45 de dengue hemorrágica. A doença avançou também no Rio de Janeiro, que já tinha vivido grandes surtos e deveria ter aprendido a não se descuidar. Até 16 de maio, a capital fluminense registrava 10.359 notificações. No mesmo período, no ano passado, a marca tinha sido de 250. Outras localidades enfrentaram ataque pesado do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da enfermidade. Em Santos, no litoral paulista, até a semana passada 2.431 casos tinham sido contabilizados, 25% a mais do que no ano passado. “É uma situação grave”, diz Marcelo Amaral, chefe do Programa de Controle da Dengue da cidade.

Por que a doença não está controlada? Além da explicação evidente – muito calor e chuva –, alguns vacilos da população e das autoridades contribuíram para o crescimento. “Houve um cochilo geral”, avalia o epidemiologista Eduardo Massad, da Universidade de São Paulo. “As pessoas se desmobilizaram em relação à prevenção e isso foi combinado a um comportamento cíclico da dengue. Se ela achar condições propícias, volta”, explica Carlos Fortaleza, da Superintendência de Controle de Endemias em São Paulo. Ou seja, toda vez que o mosquito conquista novos territórios, é ainda mais difícil livrar-se dele no ano seguinte.

Para complicar, várias pessoas têm se recusado a atender as equipes de saúde, muitas por medo de assaltos. Por isso, em Santos, as camisas dos agentes estão sendo trocadas para a cor amarela, com o telefone de emergência da dengue. Há outros problemas, como a falta de interesse pelo que os funcionários têm a dizer. No sábado 13, das 27 casas abordadas pelo mutirão feito por lá, a agente de saúde Edildes Santana só entrou em 12. “Nos prédios, as pessoas atendem o interfone, mas não abrem a porta. Outros dizem que não têm plantas. Há também muita casa fechada e pessoas deixam lixo com água empoçada”, queixa-se Edildes. No final do mutirão, a média de visitas não concluídas foi de 49%, índice elevado quando se trata de esforços para conter epidemias.

E, quando a população colabora, falta agilidade do poder público. A dona-de-casa santista Maria Stoco tenta sem sucesso resolver o problema de uma casa vizinha abandonada, um possível criadouro do Aedes. “Os donos não me deram atenção”, lamenta. Na sua família, seu marido, Reinaldo, e o filho Gabriel, 11 anos, tiveram dengue no começo do mês. Agora foi a vez de Rafael, 21 anos, além do filho da vizinha e outros dois moradores do quarteirão. Se o proprietário não abrir a tal casa para a vistoria, será necessário lançar mão de recursos legais para isso. No entanto, até quinta-feira 18, cinco dias depois de a reportagem de ISTOÉ ter visitado o local, nenhuma providência tinha sido tomada.

O governo federal acredita, porém, que o ano deverá fechar numa espécie de empate técnico com os 203 mil casos de 2005. “Se as coisas permanecerem como agora, no máximo o total de casos será igual ou menor”, prevê o epidemiologista Fabiano Pimenta, do Ministério da Saúde. A conta é diferente para o professor Massad, da USP. Tomando a cidade de Ribeirão Preto como exemplo, por ser uma das mais atingidas de São Paulo, o médico acredita que, se não ocorrer uma ação maciça e constante, a partir de novembro poderá haver uma explosão da doença nos locais onde houve mais casos. A lição é clara: a mobilização deve ser total, pois o Aedes aegypti faz recuos estratégicos, mas está longe de ter desistido da guerra.