"Parem os nazistas!” Esse foi o cartaz de recepção ao deputado ultradireitista francês, Jean Marie Le Pen, na entrada da sede do Parlamento europeu, na quarta-feira 24, em Bruxelas na Bélgica. Ironicamente, Le Pen, que faz parte do Parlamento desde 1984, iria defender a saída da França da União Européia, mas ele mal conseguiu discursar, tamanha a seqüência de vaias que recebeu de seus colegas deputados. “Apesar dos protestos, estamos tentando enfrentá-lo como se fosse uma coisa passageira”, disse à ISTOÉ
George Katisforis, parlamentar grego do
Partido Socialista.

O terremoto Le Pen, como está sendo tratado, é um dos indicadores de como o Velho Continente está se curvando inexoravelmente para a direita e, em alguns casos, para a extrema-direita. Esta última guinada começou há cinco anos na Noruega, quando o Partido do Progresso se tornou o segundo partido político do país; ganhou impulso em 2000 na Áustria, com a entrada do racista Joerg Haider para o governo. E aparentemente tornou-se irresistível no ano passado, quando o megaempresário Silvio Berlusconi ganhou as eleições na Itália e trouxe os neofascistas e a Liga Norte para o governo. A França chegou a liderar uma campanha na União Européia de sanções contra a Áustria e hoje, ironicamente, apela à direita para barrar o caminho de Le Pen. Neste ano, a extrema-direita tem chances de chegar ao poder na Holanda, que tem eleições em maio.

Para o cientista político francês Arnaud Miguet, da London School of Economics, “não há dúvidas sobre o crescimento da direita na Europa, mas cada caso é um caso”, disse ele à ISTOÉ. Miguet explica que existem alguns denominadores para explicar esse fenômeno: a apatia do eleitorado, a corrupção e consequentemente, a descrença geral nos políticos, o que a extrema-direita está capitalizando muito bem. “Os eleitores estão frustrados com os politicos que, sejam de direita ou de esquerda, não estão respondendo aos anseios do eleitorado. Além disso, com a globalização, as pessoas estão com medo de perder a identidade. Daí a xenofobia. A França, assim como o Brasil, é um país multicultural, mas quando o emprego e a segurança pública estão em risco, a coisa muda de figura”, analisa. Os extremistas da direita, os nacionalistas e os populistas aproveitam-se disso e apresentam uma plataforma que prega, por exemplo, a pena de morte para combater a criminalidade e medidas racistas contra a imigração para – supostamente – proteger os cidadãos nacionais no mercado de trabalho. O holandês Pim Fortuyn, que levou um terço dos votos municipais na segunda maior cidade da Holanda, Roterdã, por exemplo, quer zerar a imigração de muçulmanos no país (cerca de 800 mil seguidores do Islã vivem na Holanda).

Em alguns países europeus, a extrema-direita que apela à xenofobia consegue realizar alianças políticas mais amplas. Na Dinamarca, os radicais uniram-se ao Partido Social-Democrata em uma coalizão esquizofrênica, mas vantajosa no pleito eleitoral. Lá, como na Noruega e na França, a grande parte do eleitorado da ultradireita é jovem, na faixa dos 18 aos 30 anos. Uma juventude entediada de ver na televisão os mesmos políticos e velhas idéias. Desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, os conceitos de direita e esquerda se amalgamam e candidatos socialistas e conservadores apresentam propostas muito similares. Cerca de 60% dos eleitores franceses não viram diferenças fundamentais entre Jospin e Chirac. O mesmo está acontecendo na Alemanha com o social-democrata Gerard Schöder e o conservador Edmund Soitber .