Com previsão de despejar R$ 55 bilhões no mercado em 2006, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o instrumento número 1 de intervenção na economia brasileira. Liderar tal caixa-forte em ano eleitoral não é tarefa para amadores. Desde 28 de março, o leme está com um economista de 37 anos que nunca se filiou a partido político. Casado, sem filhos, o paulistano Demian Fiocca, mais jovem presidente do banco, tenta escapar dos holofotes mesmo tendo nas mãos operações polêmicas de socorro a empresas como Varig e Volkswagen. Fiocca recebeu ISTOÉ em seu gabinete na quarta-feira 10, para a sua primeira entrevista exclusiva no cargo.

ISTOÉ – Qual é a sua ideologia?
Demian Fiocca –
Sou social-democrata no sentido europeu, mais Romano
Prodi do que Silvio Berlusconi e mais José Zapatero do que José Maria Aznar.

ISTOÉ – Pretende marcar sua gestão com alguma bandeira ou fazer o
feijão-com-arroz operacional?
Fiocca –
Não vou criar bandeiras. O presidente Lula quer continuidade. Já
revisamos as políticas e cabe agora combinar a boa gestão bancária com
atuação ativa no desenvolvimento. Em governos passados a visão técnica
era desvinculada do desenvolvimento.

ISTOÉ – O banco emprestou meio bilhão de reais à Volkwagen, que em
seguida anunciou seis mil demissões.
Fiocca –
Reforçamos o comprometimento de longo prazo da Volks no País. Os investimentos da empresa são de R$ 920 milhões. As demissões anunciadas
foram pela queda de exportações com a valorização do real. Reduções de pessoal no programa que financiamos devem ser negociadas com os sindicatos e submetidas ao BNDES.

ISTOÉ – As montadoras já não foram privilegiadas demais pelo BNDES?
Fiocca –
Não há razão para excluirmos um setor. No governo passado, a variação do spread (juro do banco, acima da TJLP) para executar políticas públicas ia de 2,5% a 3% ao ano. O BNDES era mais banqueiro e menos agência de fomento. Agora, o spread vai de zero a 3%. É menor para regiões menos desenvolvidas e setores de maior impacto em emprego e infra-estrutura, como a bioenergia. Para as montadoras, é de 2%. Para ferrovias no Norte e Nordeste, é zero.

ISTOÉ – O BNDES aplica em São Paulo cinco vezes mais que no
Nordeste ou no Norte/Centro- Oeste. Não é muita concentração?
Fiocca –
Valeria o raciocínio se tivéssemos escassez de recursos. Atendemos toda a demanda com critérios universais. Reduzimos as taxas para regiões menos ricas, mas o volume depende da demanda.

ISTOÉ – Há indício de que o BNDES de Lula reduziu desigualdades sociais?
Fiocca –
O governo tem várias políticas sociais e a do BNDES pode não ser a mais direta. Os primeiros resultados de nossos estudos mostram que, em quatro anos, o crescimento da renda dos 50% mais pobres terá sido equivalente ao de 12 anos. Era de 11,5% da renda nacional em 1990 e 13,2% em 2002. Será de 15% em 2006. Há uma consistência neste governo em ser mais social-democrata do que o anterior.

ISTOÉ – O BNDES ainda é hospital de empresas malgeridas?
Fiocca –
Não. Seria, se emprestasse e rolasse a dívida até virar déficit público. Vamos ajudar a Varig se houver um investidor em condições de captar, como foi na venda da Varig Log e da VEM para a TAP. Financiamos US$ 40 milhões, evitamos 6.200 demissões e a TAP já nos pagou. Um banco público não deve lavar as mãos para o mercado. Defendemos uma gestão social-democrata competente, não o paternalismo ou o liberalismo.