Foi a princesa Isabel, em 1871, a primeira mulher a exercer poder político no Brasil. Como princesa imperial – alçada pelo sangue azul –, comandou o País durante as viagens ao Exterior de seu pai, o imperador Pedro II. Hoje, a atuação das mulheres na política é uma realidade, com a diferença de que
o acesso se dá pelo voto. O Brasil reúne 318 prefeitas, duas governadoras e 7.179 mulheres nas Câmaras Municipais, Estaduais
e Federais. Nesse contexto, o Estado do Rio terá a próxima eleição majoritária afinada com o avanço feminino: três candidatas vão concorrer ao cargo de governadora. A petista Benedita da Silva, vice que assumiu
a vaga de Anthony Garotinho, concorre com a mulher do ex-governador, Rosa Matheus de Oliveira, a Rosinha (PSB), e com Solange Amaral (PFL).

Bené, 60 anos, foi a primeira a ter seu nome lançado. Muitos correligionários não a perdoaram pela saia-justa em que deixou o PT em episódios como a compra superfaturada de uma banheira de hidromassagem e a contratação sem concurso de um de seus filhos. Benedita segue em frente e faz planos. “Durante os nove meses do meu governo, quero fazer uma administração transparente e socializar as informações”, resume. Ela pretende governar com negros e brancos, homens e mulheres, com gente do morro e do asfalto. “Quero lutar para combater o preconceito e o racismo. Sou a favor da inclusão social”, anuncia, consciente de que um bom desempenho neste momento servirá como trampolim para uma vitória na próxima eleição.

Candidatura que derrapou durante dois meses, mas acabou entrando nos trilhos foi a de Rosinha, 39 anos, que vacilou entre as responsabilidades de concorrer ao cargo ou se dedicar à campanha do marido à Presidência e aos nove filhos (quatro do casal e cinco adotivos). Acabou cedendo ao assédio dos que indicaram seu nome, pule de dez na prévia do PSB. Sua chapa conta com o apoio do PL e do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Sérgio Cabral Filho (PMDB), o que poderá ser inviabilizado pela verticalização. “Minha candidatura pretende dar continuidade ao governo Garotinho, que teve como marca o desenvolvimento com justiça social”, adianta Rosinha.

Em meio a um quadro que considera desfavorável para o eleitor, Cesar Maia resolveu interferir na disputa. “As duas têm perfil assistencial e populista”, alfineta. Lançou esta semana a deputada Solange Amaral, 48 anos, que preenche uma lacuna do eleitorado do PFL, a classe média. Solange, que já foi secretária do Trabalho durante a primeira gestão de Cesar na prefeitura e assumiu a pasta da Habitação em 2001, com uma passagem como subprefeita da zona sul, em 1992, se considera a candidata de maior experiência executiva. Ela adianta suas prioridades: “Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Finanças”.

O sexo masculino é representado pelo ex-prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira (PDT), que deixa um rastro de administrações bem-sucedidas em duas gestões à frente do município fluminense. Outra possibilidade não confirmada é a do senador Artur da Távola, pelo PSDB. Mas a briga entre os sexos deverá ser feroz. Benedita vem a reboque de uma história contundente de mulher ex-favelada, ex-doméstica, ex-camelô, sexualmente molestada aos sete anos. Bené foi eleita vereadora pelo PT em 1982, em 1986 chegou a deputada federal e em 1994 a senadora. Foi eleita vice-governadora em 1998, na aliança PT-PDT, e assumiu o governo do Estado em abril. Ela e Rosinha não se bicaram. A mulher de Garotinho assumiu a Secretaria de Ação Social e Cidadania, antes comandada por Bené, com muito mais recursos que sua antecessora. Uma estrada sob medida para pavimentar a candidatura da ex-primeira-dama. Rosinha nunca se candidatou a cargos eletivos, mas adquiriu larga experiência nas campanhas de seu marido. Começou
a vida no teatro amador e no radialismo, que afiaram sua oratória. Foi
co-fundadora do PT em Campos, em 1981, mas deixou o partido
pouco depois por causa do “radicalismo excessivo”. É evangélica,
como Benedita.

Solange, psicóloga e servidora pública, acha que o fato de o pleito reunir três mulheres pode ser interessante como novidade, mas acredita
que ganha quem tiver capacidade de se sustentar. “O eleitor procura conteúdo”, ensina. De qualquer forma, todas estão em partidos fortes. Isso aumenta a probabilidade de uma mulher, pela primeira vez na
história do Rio de Janeiro, ser escolhida nas urnas para ocupar o
Palácio Guanabara.