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O ARTICULADOR
Movimentação do presidente do PSB, Eduardo Campos, já preocupa a
presidenta Dilma, e até o grupo de José Serra acena com apoio

Com a popularidade em alta e o discurso de que é chegada a hora de sair da sombra do PT, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), deu a largada para a corrida presidencial de 2014. Ao comandar o rompimento do seu partido com os petistas em 12 capitais brasileiras e concorrer contra eles em outras 30 cidades, o neto de Miguel Arraes inicia um plano ambicioso e compra briga com o ex-presidente Lula, que até então vinha dando todas as cartas eleitorais sem enfrentar resistências. Campos pretende usar as eleições municipais de outubro como um teste de sua própria capacidade de transferir votos e enfrentar a hegemonia lulista. Não por acaso, lançou à Prefeitura do Recife, capital do Estado que governa, seu ex-secretário Geraldo Júlio, tido como um técnico conceituado. A estratégia do governador é mostrar a outros partidos até onde pode ir seu poder de fogo.

A ofensiva do governador de Pernambuco inclui disputar com o PT em outubro o comando de cidades consideradas estratégicas para a eleição presidencial de 2014. O apoio socialista a candidatos do PT ficou reduzido a três capitais apenas. Além do Recife, onde o socialista atraiu outros 14 partidos, os aliados históricos medem suas forças em Fortaleza, Cuiabá, Porto Velho, Teresina e Belo Horizonte. Na cobiçada capital mineira, o ex-ministro do Desenvolvimento Patrus Ananias deve ser o candidato do PT contra a reeleição de Marcio Lacerda (PSB), eleito em 2008 graças a uma estranha coligação que incluiu petistas e tucanos. O rompimento das legendas em Belo Horizonte, o segundo maior colégio eleitoral do País, é o retrato da disputa por poder das duas legendas. “Será um bom teste de urnas para o PSB. As circunstâncias possibilitaram o aumento de candidaturas próprias pelo País. O que nos fortalece muito agora e no futuro”, avalia o líder da bancada do Nordeste na Câmara, deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE).

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CONTRA-ATAQUE
Preocupada com o PSB, Dilma fecha apoio
do PSD a Patrus Ananias em Minas Gerais

Os socialistas trabalham com a certeza de que, se o jogo político montado por Eduardo Campos nas eleições municipais for bem-sucedido ele terá cacife suficiente para encabeçar uma chapa na disputa pela sucessão de Dilma Rousseff. A própria presidenta Dilma já enxerga esse movimento e trabalha para contê-lo. De olho em 2014, Dilma atuou pessoalmente ao longo da semana para minar o crescimento de Campos. Para tratar do tema, recebeu no Planalto o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o vice-presidente da República, Michel Temer. Foi Dilma uma das principais articuladoras do apoio do PSD de Gilberto Kassab a Patrus em Minas Gerais. Por meio do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), os tucanos também entram nesse jogo. Interessados em alimentar a cizânia entre PT e PSB e detonar Aécio Neves, outro possível candidato daqui a dois anos, acenam com a hipótese de apoiar uma eventual candidatura de Eduardo Campos ao Planalto em 2014. Ex-vice de Serra, Alberto Goldman diz que Campos é o “fato novo” da política neste ano.

Oficialmente, Eduardo Campos silencia. Quem fala é o vice-presidente da legenda, o ex-ministro Roberto Amaral, que rejeita a tese de antecipação da disputa presidencial, numa tentativa de colocar panos quentes na briga de aliados. “Não há essa história de racha ou guerra entre os partidos. Todos querem crescer e o PSB não é diferente. Nós gostaríamos até de ter mais candidatos, mas não foi possível”, alega. Amaral garante que as articulações são voltadas apenas para as eleições de outubro, e não há intenção de romper com o governo Dilma. “Estamos apenas agindo racionalmente e fechando alianças onde é possível”, diz. De fato, não há rompimento. Mas as recentes articulações comprovam que o xadrez de 2014 já está sendo jogado.

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