FRANCESCA WOODMAN / Galeria Mendes Wood, até 21/07

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AUTORRETRATO
Francesca era modelo de suas imagens, de forte traço feminino

Embora tenha interrompido sua obra aos 22 anos – e tragicamente, ao se atirar de um prédio em Nova York –, a fotógrafa americana Francesa Woodman deixou um grande acervo, com cerca de dez mil negativos. Filha de pai fotógrafo e mãe escultora, ela deu a largada na sua produção aos 14 anos e em apenas oito anos constituiu um rápido, mas genial conjunto de imagens. Em vida, a artista nunca chegou a ter uma carreira reconhecida e viu apenas 800 fotos de sua autoria serem reveladas. Hoje, contudo, o seu espólio, mantido por seus pais, Betty e George Woodman, em parceria com a Marian Goodman Gallery, uma das mais importantes dos EUA, é um dos mais requisitados. Parte dele pode ser vista na exposição que a galeria Mendes Wood, em São Paulo, exibe até o dia 21, na primeira mostra da artista no País.

Heroínas vitorianas, composições surrealistas e temas retirados da mitologia grega povoam suas imagens, sempre feitas em preto e branco. Modelos nuas ou seminuas dão forma a esse imaginário de modo fugidio e instável, já que a artista constantemente usava uma longa e lenta exposição para fazer suas fotos. Outra de suas obsessões era retratar a si própria. Recentemente, Francesca esteve em cartaz no Museu Guggenheim, em Nova York, em uma das maiores retrospectivas já realizadas em torno de sua obra. Encerrada no dia 13 de junho, uma parte considerável da mostra de Nova York está presente na seleção feita pela galeria Mendes Wood. “É incrível o fato de que somente agora o Brasil tenha recebido o trabalho de Francesca. A sua obra é um divisor de águas e influenciou toda uma geração de fotógrafos, e continua a influenciar até os dias de hoje”, afirma o americano Matthew Wood, dono da galeria e responsável pela curadoria da mostra.

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REFERÊNCIAS
Foto inspirada no mito de Leda, seduzida por Zeus na forma de cisne

Fascinado pelas imagens de Francesca, Wood foi a New Hampshire, nos EUA, onde os pais dela vivem, para escolher as 30 fotografias que integram a antologia. Ele optou por apresentar a evolução da produção da artista de maneira cronológica, a partir de 1972. As fotos mais recentes são de 1981, ano de sua morte. “Ela teve uma produção rápida e densa e não pôde amadurecer seu trabalho. A cronologia dá uma ideia de como seus temas e experimentalismo evoluíram”, diz Wood.

Além do traço fortemente feminino, as fotos de Francesca impressionam ao registrar a passagem do tempo como metamorfose. Talvez por isso ela tenha se interessado tanto pela mitologia grega, já que grande parte de suas narrativas tratam exatamente da transformação. A imagem “Sem Título – 1979-1980”, que mostra uma mulher acariciando um cisne, é uma referência ao mito de Leda, princesa grega que foi seduzida por Zeus quando ele se metamorfoseou na ave. “A obra de Francesca se dá pela vibração, pela ideia de que uma imagem é algo instável no sentido de que a natureza do ser é sempre o movimento, a transformação”, afirma Wood.