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BRILHO Ao lado do irmão Luciano, Zezé (à esq.) em sua casa em um condomínio de luxo nos arredores de São Paulo

Bamburrar é o termo usado pelos garimpeiros quando acham uma enorme pepita de ouro. É o verbo que o cantor e compositor Zezé Di Camargo usa para se referir aos shows lotados e aos hits estourados de sua carreira depois de 16 anos de estrada. Ele é de fato o Midas da música sertaneja, encabeçando a dupla com o irmão Luciano. Tudo o que eles tocam vira ouro. Zezé Di Camargo & Luciano já venderam 24 milhões de cópias, o que dá uma média de três CDs por minuto. Isso, em números oficiais, sem levar em conta a importante sangria causada pela pirataria. E eles não estão sozinhos. Entre os dez discos mais vendidos do País, as duplas sertanejas chegaram a emplacar este ano seis lugares na lista, segundo a revista Sucesso, voltada para o mercado fonográfico. “O Brasil é sertanejo”, conclui Wilson Souto, presidente da gravadora Atração, especializada no segmento. E o Brasil sertanejo não é mais apenas o do interior. Uma das razões para o sucesso de duplas como Bruno e Marrone, com seus nove milhões de discos vendidos e média de 150 shows por ano, é que os sertanejos conquistaram também as metrópoles. O fenômeno mais recente é César Menotti e Fabiano, irmãos que logo na estréia venderam 200 mil cópias. Eles são os representantes de um novo nicho: o sertanejo universitário. Filhos de um garimpeiro, passaram a integrar o clube dos que fazem fama e fortuna tocando moda de viola. “O sucesso dos sertanejos é natural, vem de baixo para cima, do interior para a metrópole. Chega a São Paulo com uma sustentação muito forte, quando já é fenômeno no interior do Estado, no Triângulo Mineiro e em Goiás”, explica Zezé, que conquistou até a arredia zona sul carioca. No mês passado, a dupla lotou dois dias seguidos o Citibank Hall e precisou fazer um terceiro show extra na cidade do funk.

Quando se fala em show sertanejo, fala-se de superproduções. “Oferecemos o melhor do que há no mercado. Temos equipamentos de luz que poucos artistas no mundo têm”, vangloria-se Luciano, que canta sob o mesmo aparato de luz usado por Madonna. A dupla conta hoje com uma equipe de 62 pessoas na produção, três carretas, dois ônibus e alugam um jatinho para se deslocar pelo País em suas 130 apresentações por ano.

Os sertanejos valem-se ainda de um consistente mercado. “São mais de 4,5 festas de peão e rodeio País afora”, contabiliza Franco Scornavacca, empresário de Zezé Di Carmago e Luciano. Os novos reis deste circuito são Edson e Hudson, que chegam a fazer 190 apresentações anuais, média de um show a cada dois dias. É uma maratona lucrativa, que rende, segundo estimativas de mercado, pelo menos R$ 500 mil líquidos para cada um anualmente. “Somos abençoados. Acredito em merecimento e em Deus”, afirma Edson, sem falar em valores. “A gente canta com o coração, não está pensando em venda.” Mas eles pensam, sim, em como manter este enorme público fiel. Bruno e Marrone fazem um diagnóstico preciso antes de se aventurar pela estrada. “O show deve ser marcado para uma época perto do pagamento da galera, se o preço do ingresso é bom para o público e se o contratante é de confiança”, enumera Bruno, que nunca mais tocou para platéia vazia. Outra regra de sucesso é oferecer o que os fãs querem ouvir.

Os sertanejos vêm ganhando também a batalha contra o preconceito. Um bom exemplo foi o sucesso de 2 filhos de Francisco, com seus 5,3 milhões de espectadores. A saga de Zezé Di Camargo e Luciano rumo ao estrelato é recordista de público na retomada do cinema nacional. “O filme não aumentou nossa popularidade, mas trouxe uma notoriedade que artistas sertanejos não tinham alcançado ainda”, pontua Zezé, que desde então gravou com medalhões da MPB, como Chico Buarque e Caetano Veloso. Exímio guitarrista, Hudson, que faz dupla com o irmão Edson, demorou para ser aceito entre os roqueiros. “Acham que um cara de dupla sertaneja não pode tocar direito”, lamenta ele, que superou a desconfiança inicial e acaba de gravar um disco de rock duelando na guitarra com Andreas Kisser, do Sepultura, a melhor banda de metal do mundo.

A exemplo do rei da mitologia grega, os Midas sertanejos também vivem a opulência da era de ouro de suas carreiras. Hudson mora em uma chácara de 24 mil metros quadrados em Limeira (SP), onde construiu um lago, um estúdio e cria cobras. Já Edson coleciona carros antigos. Hudson prefere circular em uma BMW de R$ 380 mil. Ostentação é coisa do passado para Zezé. “A fase do deslumbramento é natural de quem não tinha dinheiro e passa a ter acesso a coisas que sempre sonhou. Por uns cinco anos, só usava Versace”, diz o compositor de É o amor. “Mas, aos poucos, essas coisas vão perdendo o significado.” Aos 45 anos, Zezé garante ter se emocionado mais ao comprar o primeiro carro – um Escort L – do que ao adquirir uma Mercedes. “Dormi duas noites dentro do carro. Como sonhava com um XR3, falsifiquei o meu, colocando aerofólio, farol de milha e outros acessórios do modelo chique.”

Bons empresários, os sertanejos não jogam dinheiro fora. Depois de garantir o pé-de-meia, Marrone virou procurador de jogadores de futebol. Seu parceiro, Bruno, é dono de uma faculdade. Luciano Camargo montou uma construtora e tem uma indústria de água. Mas a mina de ouro dos negócios de todos eles é a música.

 

 

 

 

 

 

 

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CLEAN Marrone em visita ao parceiro Bruno, que vive em um condomínio de luxo em Sorocabaosmidas50_2.jpg

 EXÓTICO Edson na chácara do irmão Hudson, que cria cobras, curte rock e velocidade a bordo de sua BMW