Três meses antes de morrer, a atriz mais desejada da América, Marilyn Monroe, foi a sensação da megafesta do 45º aniversário do presidente John Fitzgerald Kennedy no Madison Square Garden, em Nova York. Naquela noite de gala de 19 de maio de 1962, Marilyn estava sensualíssima, sob um vestido diáfano e colado ao corpo, que realçava a generosidade de suas formas, enquanto ela cantava, com voz lasciva, Happy birthday to you, mr. president. A atriz estava no auge de sua carreira. No dia 12 de julho, depois de posar com uma echarpe transparente sobre os seios, Marilyn desafiou o fotógrafo Bert Stein, da Vogue: “O que acha disso para uma mulher de 36 anos?” No entanto, no dia 5 de agosto daquele ano, ela foi encontrada morta em sua casa em Los Angeles. A atriz estava deitada em sua cama, nua – como dormia sempre –, supostamente depois de ter ingerido uma overdose de barbitúricos. As circunstâncias da tragédia nunca foram totalmente esclarecidas, embora a polícia tenha concluído pelo suicídio. Desde então, teorias conspiratórias nascem como cogumelos depois da chuva no imaginário dos americanos, a maioria delas, claro, ligadas ao clã dos Kennedy. Marilyn fora amante tanto de John quanto de Robert, o irmão mais novo do presidente e então procurador-geral (secretário da Justiça) dos EUA. Agora, 45 anos depois, o jornal britânico The Independent publica um relatório do FBI que supõe que Marilyn pode ter sido vítima de um complô para induzi-la a um falso suicídio – mas com a intenção real de matá-la. E tudo com a anuência de Bob Kennedy.

Segundo o jornal, o relatório foi escrito em 1964 por um ex-agente especial do FBI cujo nome foi apagado. O diretor de cinema australiano Philippe Mora foi quem descobriu o documento, recentemente desclassificado da condição de secreto. O relato diz que a estrela de Os homens preferem as louras foi vítima de uma armação de pessoas próximas, que a teriam convencido a simular uma tentativa de suicídio tomando uma quantidade elevada de barbitúricos. Ela seria encontrada a tempo e salva com uma lavagem estomacal. Dessa maneira, Marilyn poderia conquistar a simpatia do público depois de revelar o romance com Bob Kennedy. De acordo com o Independent, o verdadeiro objetivo da conspiração era eliminá-la, evitando que ela tornasse público o seu relacionamento com o procurador-geral. Desse complô fariam parte Ralph Greenson, psiquiatra da atriz, Eunice Murray, sua governanta, Pat Newcomb, assessora e secretária de imprensa, e o ator Peter Lawford, que era casado com Patricia Kennedy, irmã do presidente.

ATRAÇÃO Deslumbrante, Marilyn canta para John Fitzgerald Kennedy (acima). Depois, se envolveria com Bob

 

 

Citando o relatório, o Independent diz que na noite em que Marilyn morreu, Bob Kennedy chamou Lawford de um hotel de San Francisco para saber “se ela já tinha morrido”. Segundo o jornal, o psiquiatra Ralph Greenson teria receitado a Marilyn 60 pílulas do barbitúrico Seconal. Um gesto incomum para ele, que a atendia com freqüência. Naquele dia, a governanta Eunice Murray teria colocado a embalagem com as pílulas na mesa de cabeceira da atriz. “Há relatos de que ela e a assessora Pat Newcomb estavam cooperando para induzi-la ao suicídio”, diz o relatório. Mas o curioso é que um dia antes Murray tinha sido demitida pela atriz, que não suportava mais o controle que ela tentava exercer sobre sua vida, em estreita colaboração com o dr. Greenson. Ele também estava para ser demitido. O relatório do FBI, contudo, não explica essas contradições.

Marilyn se envolveu com Bob Kennedy logo depois de ter sido dispensada por John. Mulherengo como todos os varões do clã, Bob às vezes ficava com as “sobras” amorosas do irmão. O procurador foi consolá-la pela perda de JFK e acabou se envolvendo com a deusa de Hollywood. Mas Marilyn pensava em casamento. Pior: um dia, ela lhe disse que estava grávida. Bob pulou fora e incumbiu o cunhado Peter Lawford de “resolver o problema”. Rumores de que Marilyn teria sido seqüestrada e obrigada a se submeter a um aborto nunca puderam ser confirmados.

O diretor Philippe Mora confessa que não sabe o que fazer com o material do FBI. “Seria isso mais um dos elaborados golpes baixos dos eternos inimigos dos Kennedy ou estaríamos mais perto da verdade histórica?” Em se tratando da família mais glamourosa dos Estados Unidos, costuma-se aplicar o paradigma de John Ford em O homem que matou o facínora: “Quando a lenda é melhor que a realidade, publique-se a lenda.”