Poucos dias depois da divulgação dos resultados do primeiro teste em larga escala com uma vacina contra a Aids, na semana passada a frustração inicial deu lugar à curiosidade dos cientistas. A decepção foi motivada pelas conclusões do estudo feito durante três anos com 5,4 mil voluntários, o mais amplo e importante sobre imunização desde que a epidemia mundial começou. A vacina protegeu apenas 3,8% de todos os participantes. Isso quer dizer que, em cada mil pessoas, só 38
estariam imunes ao HIV (foto ao lado). É pouquíssimo. A empresa esperava que o índice de proteção fosse de pelo menos 30%. A
AidsVax foi criada para imunizar contra o HIV 1, subtipo B, mais
comum na América do Norte e na Europa.

Já a curiosidade foi aguçada porque a mesma vacina protegeu mais os indivíduos negros e asiáticos que participaram do estudo (cerca de 10% do total de voluntários). Entre essa população, a eficácia foi de 67%. Trata-se de uma descoberta inesperada. O achado indica que pode haver forte influência de características genéticas, como a raça, na imunidade contra o HIV. “É necessário haver estudos específicos para entender a proteção obtida em asiáticos e negros. Essas pesquisas podem ajudar a descobrir o que mais o organismo precisa fabricar para se defender do vírus”, diz o infectologista Adauto Castelo Filho, da Universidade Federal de São Paulo. Talvez essa resposta venha de um estudo com a vacina em andamento na Tailândia (Ásia), que deve terminar até o final do ano. Atualmente há mais de 200 estudos em pessoas para avaliar o efeito de substâncias candidatas à vacina.