O ditador comunista Iossif Vissarionovitch Djugashvili, mais conhecido como Josef Stálin (o homem de aço), chegou ao poder na União Soviética em 1924 e nele se manteve durante quase 30 anos através de um sangrento regime totalitário que muitos comparam ao nazi-fascismo. Mas, ao contrário de seus congêneres fascistas Benito Mussolini e Adolf Hitler, que tiveram morte violenta, Stálin faleceu tranquilamente em sua dacha (casa de campo) de Kuntsevo, nas proximidades de Moscou, em 5 de março de 1953. Verdade? O episódio até hoje está envolto em mistério e nunca se chegou a uma conclusão definitiva. A suposição de que o encontro do “Pai dos Povos” com Karl Marx foi apressado pelo círculo do poder do Kremlin já tinha sido aventada pela sua filha, Svetlana, e por vários pesquisadores, mas ganhou agora uma nova e espetacular versão. O historiador russo Edvard Radzinski afirma que, na verdade, como o imperador francês Napoleão Bonaparte, o ditador soviético foi envenenado. O responsável seria o comandante de sua guarda, coronel I. Khrustalev, a mando de Laurenti Beria, o temido ex-chefe da polícia secreta (NKVD, antecessor do KGB), com a complacência da liderança soviética. Segundo o historiador, a corte do tirano temia que ele levasse a URSS à terceira guerra mundial. “Eles achavam que Stálin estava decidido a expandir o comunismo pela guerra. Mas Béria, Kruchóv e Malenkov entendiam que seria terrível um conflito contra os EUA porque a URSS, embora possuísse armas nucleares, era um país muito fragilizado economicamente.”

A hipótese de Radzinski está baseada no testemunho dado anos atrás por um dos guardas de Stálin na dacha, Pyotr Lozgachev. Sabe-se que na noite de 28 de fevereiro de 1953, Stálin assistiu no Kremlin a um filme com seu Estado-Maior: Béria, Nikita Kruchóv, Georgii Malenkov e Nikolai Bulganin. Em seguida, eles foram jantar na dacha de Kuntsevo. Depois que os convidados se retiraram, na madrugada do dia 1º de março, Stálin teria dado ordens para que seus guardas fossem dormir, mas segundo Lozgachev, a ordem não partiu do ditador, mas do chefe da guarda, Khrustalev. No dia seguinte, os guardas ficaram preocupados porque passava do meio-dia e Stálin não saía do quarto. Mas ninguém se atrevia a incomodá-lo. Às 22h30, Lozgachev resolveu verificar o que se passava e encontrou Stálin caído no chão, sem conseguir falar. Os guardas avisaram os dirigentes, mas eles não quiseram chamar os médicos de imediato. “Vocês não estão vendo que o camarada Stálin está dormindo?”, ralhou Béria. Quando os médicos chegaram, já tinham se passado 12 ou 14 horas que Stálin sofrera uma hemorragia cerebral. O ditador bateria as botas às 21h50 do dia 5.

Embora Radzinski não tenha exibido provas sobre o suposto assassinato, a hipótese é plausível. O que faz pouco sentido é a tese que ele esgrime para explicar as razões do crime. Na verdade, os integrantes da entourage soviética tinham muitos motivos para temer pelo futuro se Stálin continuasse no timão, principalmente Béria. A ironia é que este último, o sinistro personagem que durante tanto tempo simbolizou o lado satânico do stalinismo, tentou, nos meses que esteve no poder depois da morte do “Guia Genial”, reformar o regime. Acabaria deposto por um golpe palaciano liderado por Kruchóv e fuzilado em dezembro de 1953. Assim, o sanguinário Béria foi o precursor da desestalinização de Kruchóv, das reformas de Iuri Andropov e da perestroika de Mikhail Gorbatchóv.