É bem caseira a receita de Lula para baratear e racionalizar a venda de medicamentos no Brasil, mas nem por isso ela deixa de ter valor: “A Marisa sempre reclamava lá em casa do desperdício de dinheiro com a sobra de remédios que ficavam na gaveta.” Lula (ouvindo o seu ex-assessor Oded Grajew) decidiu regulamentar então no País a venda de medicamentos por unidade (isso já ocorre em alguns dos mais desenvolvidos países). Os primeiros efeitos colaterais do decreto que libera o fracionamento foram as queixas da indústria farmacêutica e do comércio varejista – o que fez a Agência Nacional de Vigilância Sanitária postergar a vigência da medida, estudando uma maneira de colocá-la em discussão pública. Não resta dúvida de que Lula está coberto de razão em apoiar o fracionamento de medicamentos – afinal, por que um paciente, rico ou pobre, que precisa de cinco comprimidos de antiinflamatório ou de três comprimidos de antibiótico, tem de gastar dinheiro levando a caixa toda? Lula está igualmente certo ao determinar que farmacêuticos (e somente farmacêuticos) façam pessoalmente esse tipo de venda aos clientes para evitar trapalhadas – se ele errar, tem o diploma cassado e a farmácia, fechada. Um dos nós da questão é o exíguo número de farmácias e de farmacêuticos no Brasil: 60 mil e 90 mil, respectivamente, sendo que desses 90 mil a grande maioria trabalha na indústria farmacêutica ou dedica-se a universidades. O outro nó é a dificuldade em se criarem mecanismos que evitem que a venda fracionada, sem embalagem, lacre e logotipo, gere fraude ou trapaça, ou facilite o tráfico de medicamentos psicotrópicos.


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