Há quase dois anos, no dia 30 de maio de 2001, depois de o exaustivo trabalho da Comissão de Ética do Senado ter comprovado seu envolvimento na violação do painel de votação do Senado e pedido sua cassação, o senador Antônio Carlos Magalhães renunciou a seu mandato no Congresso. Hoje, mais uma vez eleito senador, ACM vê de novo aproximar-se a temida Comissão de Ética. Implicado na mais recente onda de grampos que assola o País, o senador tem nos depoimentos feitos à Polícia Federal por Adriana Barreto e seu marido, Plácido Faria, de um lado, e nas reportagens “Grampo que vem da Bahia”, “Impressões digitais” e “Confissões de ACM”, publicadas
nas edições 1741, 1742 e 1743 de ISTOÉ, de outro,
bons motivos de preocupação.

Nas reportagens de ISTOÉ, em conversas com o repórter Luiz Cláudio Cunha, o senador assumiu sua participação na “ilicitude”. O interlocutor do senador é um jornalista de exemplar consistência e invejável currículo. Luiz Cláudio, editor da sucursal de ISTOÉ em Brasília, começou sua carreira na Folha de Londrina, em 1969, e transferiu-se para o jornal Zero Hora no ano seguinte. Foi um dos fundadores do Coojornal, experiência inédita de um jornal alternativo em regime cooperativo. Chefiou as sucursais da revista Veja no Rio Grande do Sul e em Brasília e editou a coluna Informe JB, no Jornal do Brasil, no Rio. Em Brasília, dirigiu as sucursais de ISTOÉ, Afinal, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e Zero Hora. Foi ele quem revelou, no Correio Braziliense, as inconfidências, captadas pelas antenas parabólicas, do ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, que confessou não ter escrúpulos ao mostrar o que é bom e esconder o que é ruim do governo, num intervalo de uma entrevista à Rede Globo. Foi ele também quem revelou o financiamento secreto da empreiteira baiana Odebrecht à candidatura do petista Cristovam Buarque a governador de Brasília, em 1994.

Há seis meses, o senador Antônio Carlos Magalhães encontrou o jornalista Juca Kfouri no restaurante Gero, em São Paulo. Solícito, ACM cumprimentou Juca com um elogio: “Quando você dirigia a Playboy, a revista fez o melhor perfil que a imprensa brasileira publicou a meu respeito.” A reportagem “Deus e o diabo na terra do acarajé” foi escrita por Luiz Cláudio Cunha em 1993. “Lembra dele, senador? Era um repórter gaúcho.” Resposta de ACM: “Claro. Muito bom profissional. Nunca puxou meu saco, nem me sacaneou.” A credibilidade sempre foi uma constante na carreira deste jornalista, hoje com 51 anos, casado e pai de dois filhos. Ainda em 1979, em plena ditadura, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo com a reportagem “O sequestro dos uruguaios”, publicada
na revista Veja, na qual relata o desaparecimento de Lílian Celiberti
e Universindo Diaz, o casal sequestrado de um apartamento em
Porto Alegre pelo Exército uruguaio, com a participação do Dops
gaúcho. Com a mesma reportagem ganhou o Prêmio Wladimir
Herzog de Anistia e Direitos Humanos.