Na esteira da ruptura política no Paraguai, que derrubou o presidente Fernando Lugo num rito sumário, o vice-presidente da Bolívia, Alvaro García Linera, fez uma denúncia grave: um golpe parlamentar também estaria sendo urdido no país andino, tendo como pretexto um motim policial. Imediatamente, dezenas de intelectuais de esquerda assinaram um manifesto em defesa do presidente Evo Morales.

Discretamente, o Itamaraty preparou um relatório reservado para a Presidência da República, apontando que, em vários países sul-americanos, o risco político cresceu. Isso inclui a Bolívia, a Venezuela, o Equador e até mesmo a Argentina, onde Cristina Kirchner vem sendo acossada por greves de caminhoneiros.

Este novo quadro realimenta fantasmas do passado. Historicamente, na América Latina, a estabilidade política tem sido mais a exceção do que a regra. Imaginar que Evo Morales esteja cumprindo seu segundo mandato numa Bolívia que já viveu 189 golpes de Estado desde a sua independência, em 1825, é quase um milagre. Tradicionalmente, os golpes são um mecanismo padrão de transição política no continente. Tão ou mais comum do que eleições livres.

É por isso mesmo que o Brasil, como gigante regional, tem a obrigação de se manter inflexível na análise da questão paraguaia. No processo de integração regional, tanto no Mercosul como na Unasul, cláusulas democráticas foram sendo acrescentadas aos acordos diplomáticos para que os países assumissem compromissos firmes em relação à manutenção da estabilidade política. Uma flor extremamente frágil na América Latina.

Aparentemente, Federico Franco seria até um presidente mais “barato” para o Brasil do que Fernando Lugo. Franco prometeu pagar dívidas na área de energia, sinalizou apoio aos brasiguaios e não pediu um jatinho para uso pessoal a Itaipu, como Lugo teria feito. Mas, na questão paraguaia, os princípios devem pesar mais do que os interesses. Preservar a democracia num continente tão conturbado não tem preço. 

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