Eram 17h54 da quinta-feira 18 quando um monomotor Rockell Commander 114B, um pequeno avião de turismo, chocou-se com o arranha-céu símbolo da cidade de Milão, o edifício Pirelli, o mais alto da cidade com seus 127 metros. Um rolo de fumaça saiu do 25º andar, escurecendo o céu azul-anil da tarde italiana. Nas ruas, bombeiros vestidos com roupas laranjas corriam para dar assistência aos cerca de 60 feridos. A polícia isolou a área, nas proximidades da estação ferroviária, e praticamente só ambulâncias puderam circular. O piloto, que estava sozinho no avião, e mais duas pessoas morreram na hora. Quem viu a cena lembrou-se imediatamente da tragédia do dia 11 de setembro, esperando ser mais um ataque do terrorista saudita Osama Bin Laden. O governo italiano fechou o espaço aéreo por alguns momentos e o presidente do Senado, Marcelo Pera, chegou a alardear que era um atentado. “Parecia ser uma bomba. A calçada tremeu como se fosse um terremoto”, disse uma testemunha que se identificou como Lucia. “As pessoas entraram em pânico. Houve uma pane nos celulares por causa de tantas ligações. Os milaneses não sabiam ao certo o que acontecia. Pensávamos que fosse um ataque, até porque o prédio é o símbolo econômico da cidade”, disse a ISTOÉ Carlo Lovatti, jornalista do Corriere della Sera. A notícia da queda da aeronave caiu como um raio nas Bolsas de Valores dos Estados Unidos e da Europa. O índice Dow Jones caiu em 80 pontos ou 1% em Nova York e 2% em Frankfurt. Em Washington, a assessora de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, informava o presidente George W. Bush a cada instante sobre a investigação assistida pelo FBI na Itália.

Mas, rapidamente, a hipótese de um ataque contra a torre da Pirelli foi descartada pelas autoridades italianas. O prédio, conhecido como Pirellone, foi construído de 1956 a 1960 pelo arquiteto Gio Ponti e em 1978 tornou-se sede governamental da Lombardia. “Acreditamos que não foi um ataque terrorista”, disse o sargento milanês Vicenzo Curto. “O piloto pode ter se sentido mal ou teve problemas com o motor”, completou. O piloto, Luigi Fasolo, 68 anos, com dupla nacionalidade suíça-italiana, decolou de Locarno, na Suíça, e 20 minutos depois, enviou um SOS à torre de comando de Linate, na Itália, onde aterrissaria, avisando que estava com problemas no trem de pouso. Gino, como era apelidado, foi membro fundador do aeroclube de Lucarte, na Suíça, e tinha uma longa experiência como aviador. “Gino tinha uma paixão louca pelo vôo”, descreveu um amigo. Testemunhas afirmam que quando o piloto entrou desgovernado no prédio, causando um incêndio em pelo menos quatro dos 31 andares, o monomotor já estava em chamas. Na torre, trabalhavam no momento do acidente 1.200 pessoas. Felizmente, os andares atingidos estavam em manutenção e não havia ninguém no momento do acidente. Mesmo sendo descartada a hipótese de atentado, as investigações vão continuar. Os EUA já haviam alertado o governo italiano sobre um possível braço do grupo al-Qaeda de Bin Laden em
Milão e nos últimos meses cerca de 30 pessoas foram detidas
para interrogatório.