Claudionor José da Silva, o Nonô, começou a pescar em 1941. É o mais antigo membro da colônia de pescadores Z-13 de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Ainda adolescente, aprendeu a fazer redes com os companheiros mais velhos. Desde então, viu a pesca predatória ameaçar seu sustento, adaptou sua técnica refinada à confecção de redes de vôlei de praia e, hoje, ajuda a equilibrar a balança comercial brasileira. Trabalhando sempre com o pé na areia, Nonô, aos 77 anos, é um exportador. Seu produto já foi vendido para mais de 15 países.

“O ponto é o mesmo, a única diferença é que nas redes de pesca o ponto é em forma de losango e nas de vôlei é quadrado”, ensina Nonô. O trabalho é duro e exige concentração. Com uma disposição de causar inveja a qualquer garoto, Nonô começa o trabalho diariamente às 5h, ali mesmo, onde tudo começou, no seu cantinho em Copacabana, no Posto 6. Cada rede consome um dia inteiro de trabalho e chega a custar R$ 220. “Existem redes até de R$ 30, mas são mal-feitas”, esnoba o mestre. “Como os pedidos são muitos, tem gente que passa meses na fila.” A rede de Nonô tem fama de ser a melhor que existe entre os profissionais do vôlei de praia. O artesão diz já ter vendido em torno de mil redes. “Quando está para acontecer alguma etapa do circuito mundial de vôlei, eles vêm buscar quatro ou cinco redes comigo. Tem rede minha até em praia da Malásia.”

O trabalho mais recente vai chegar esta semana às mãos das atuais campeãs mundiais de vôlei de praia Adriana Behar e Shelda. “Somos clientes antigas dele e hoje já viramos velhos amigos”, diz Adriana, enquanto analisa mais uma rede do ex-pescador na praia do Leme, onde a dupla treina diariamente. “A rede dele é especial”, diz a atleta, medalha de prata nas Olimpíadas de Sydney, no ano 2000, ao lado da companheira de dupla.

A matéria-prima de Nonô é o náilon. Mas nem sempre foi assim. Antes do advento do material, na década de 50, o método de produção era muito mais trabalhoso. Fibras de algodão eram adicionadas a cascas de aroeira em um tacho de água fervendo. Em seguida, colocava-se o material para secar ao sol. Só então surgia a rede.

Consolidado como exportador, Nonô trabalha agora para imortalizar sua técnica. Todos os dias, cinco garotos passam algumas horas com o mestre, aprendendo os segredos de cada nó – inclusive o arranjo de fios secreto que garante aos artigos de Nonô a resistência admirada pelos clientes mundo afora. “Tenho medo de levar a técnica comigo. É muito ruim imaginar que as minhas redes vão parar de ser fabricadas”, preocupa-se o artesão exportador.