O realismo fantástico, poderoso instrumento que nos anos de chumbo das ditaduras latino-americanas permitiu dar vazão à criatividade de tantos escritores abaixo da linha do Equador, tem ressurgido com frequência cada vez maior na literatura de outras latitudes. Um bom exemplo é A casa das sete irmãs (Rocco, 208 págs., R$ 25), da jornalista e autora holandesa Elle Eggels. Contando na ponta dos dedos a história da vida de sete irmãs que, na década de 50, administram uma padaria na pequena cidade de Limburgo, na Holanda, a obra mistura realidade e fantasia em doses perfeitas para manter o interesse do leitor, sem nunca despencar para a galhofa. Na verdade, nada no livro faz muito barulho.

Narrado pela pequena Emma, filha ilegítima da irmã mais velha, Martha,
a história vai desnudando a intimidade de cada uma delas, seus amores
e o fardo da solidão que parece pairar como um destino inevitável.
Os homens vêm e vão, não têm vida própria, são meros joguetes da fatalidade que as mantém unidas em meio a muitas e silenciosas crises. Na casa das sete irmãs ninguém grita para não desandar a fina massa
dos pães e tortas. Todas se submetem ao jogo que algum espírito travesso lhes impôs como cenário de suas vidas. As eventuais reações são pífias, fracas e principalmente inúteis. Nem a morte as liberta das rígidas paredes familiares. Elas morrem, mas ficam, convivem, passam
do além as receitas e recados que não tiveram tempo de registrar. A padaria cresce, transforma-se num supermercado, mas as personalidades das mulheres continuam amarradas a uma morna e previsível rotina.
Em essência, o romance de Elle é uma versão modernizada do que antigamente se chamava de “livro de moça”. Uma pequena amostra de que é possível ser mulher e descrever a mulher e suas angústias sem as obsessões gritantes e neuróticas das Bridget Jones da vida. Um alívio em meio à geléia geral do gênero.