Brincar de pega-pega, esconde-esconde ou bambolê. Essas tradicionais brincadeiras infantis estão ganhando as salas das academias de ginástica e se transformando em opção de fitness infantil. Na verdade, elas foram incluídas em um programa criado na Inglaterra e lançado recentemente no Brasil pela empresa Body Systems, uma espécie de fábrica de novas modalidades de malhação. Empenhada em desenvolver aulas especialmente preparadas para a criançada, a Body Systems criou o Fitclub, um sistema de exercícios composto por dez programas voltados para atender desde crianças de dois anos até adolescentes.

No Brasil, algumas academias já estão oferecendo parte desses programas. A Bioritmo, em São Paulo, por exemplo, incluiu nas
aulas o “Mundo Maravilhoso”. Composto por brincadeiras e jogos adaptados à cultura brasileira, o programa foi desenhado para o público entre cinco e 11 anos. Uma das brincadeiras prediletas da criançada é a do pára-quedas aberto. Elas realizam diferentes peripécias com o brinquedo. Um exemplo é quando cada uma segura em uma parte do tecido e imita o que a professora pede. Eles podem, também, balançá-lo devagar como se representasse um mar calmo. Com o tempo, aumentam o ritmo para mostrar que a “maré” está brava. Dessa maneira, exercitam bem mais os braços.

Outra atividade da aula é feita com grandes bolas. As crianças precisam carregá-las variando o ritmo das passadas. É óbvio que a intensidade das tarefas aumenta de acordo com a faixa etária. Para a molecada entre oito e 11 anos, as atividades são um pouco mais puxadas. Há, por exemplo, uma aula de circuito na qual são feitos vários exercícios. Um deles é puxar parte de um elástico que está preso. A criançada menor realiza o movimento poucas vezes sem muita preocupação. Já os maiores de oito anos fazem flexões de uma forma leve, porém mais dirigida, para trabalhar os músculos do braço.

Na verdade, embora um dos objetivos das aulas seja o de estimular desde a infância o hábito da prática de um esporte, tudo é feito da maneira mais natural e divertida possível. Nas aulas, o prazer de brincar e de se movimentar vem antes de tudo. “A preocupação maior é manter os pequenos em movimento e não com a execução do exercício em si. Mas mesmo nas brincadeiras as crianças desenvolvem a coordenação motora e o reflexo”, explica Daniela Mami, professora da Bioritmo.

Polichinelo – O “Mundo Maravilhoso” também estimula a atividade cognitiva dos alunos. No jogo de dados, por exemplo, as crianças lançam as peças e, quando elas param, os participantes precisam contar os números que caíram e fazer a quantidade equivalente de polichinelos. “Elas aprendem a calcular rapidamente”, afirma Laura Trevisan, coordenadora pedagógica da Body Systems. Para a criançada, as aulas são sinônimo de pura diversão. As irmãs Alejandra Cuspinera, dez anos, e Adriana, oito, contam que não vêem o tempo passar durante as atividades e ficam aguardando a próxima aula. “A gente começa a brincar, fecha os olhos e a brincadeira acaba”, diz Alejandra. A caçula reforça: “A aula é gostosa e divertida.”

Outro programa do Fitclub que promete atrair os pequenos é o Water World. Na Bioritmo, ele deve começar a ser adotado no final deste ano. Os jogos são dirigidos à molecada de oito a 16 anos e realizados numa piscina. Por isso, um dos pré-requisitos é saber nadar até 20 metros. Os materiais para brincadeiras são em formato de conchinhas, estrelas, focas, jacarés, entre outros. Uma das tarefas é procurar pelos bichinhos espalhados na piscina e montá-los. Em breve, também deverá chegar ao Brasil o AeroKidz AeroJam, indicado para quem tem entre oito e 16 anos. As aulas ensinarão coreografias de ídolos da garotada, como a cantora Britney Spears. E a idéia é a de que, com o tempo, sejam montadas aulas com músicas de popstars brasileiros, como a dupla Sandy e Júnior.

O Fitclub, porém, é apenas a alternativa de fitness infantil mais recente. Nos últimos anos, tem crescido a oferta de atividades físicas para as crianças, que vão além de opções mais tradicionais como o judô ou a natação. Uma das mais atraentes aos olhos dos pequenos tem sido a aula de circo, recomendada a partir dos quatro anos. Há vários locais onde ela pode ser feita. Em São Paulo, um dos lugares é a escola Nau de Ícaros. Lá, a brincadeira começa a partir de uma história, geralmente misteriosa, contada pelo professor. A molecada é estimulada a fazer as atividades, como pular na cama elástica, para conseguir pistas e solucionar o enigma do conto. A escola seleciona histórias que estão relacionadas a uma dificuldade comum ao grupo. Se há muitas crianças com medo, por exemplo, são apresentados enredos que falam de coragem. “É uma atividade educacional e física”, define o professor Juliano Diaz. E bastante divertida. Basta assistir às peripécias da pequena Bruna de Freitas, sete anos, para confirmar. “Não dá vontade de parar”, diz.

No Rio, as crianças mais velhas e os adolescentes também contam com várias alternativas de malhação mais divertida. Os alunos do professor Vinícius da Veiga, da academia Estação do Corpo, por exemplo, requebram ao som das músicas tocadas na aula de street dance, inspirada na cultura hip hop. Geralmente frequentada por adolescentes, a aula descontrai e alegra os alunos. “Estamos preocupados em mexer o corpo, mas sem a neurose de perder calorias”, explica o professor.
De fato, qualquer opção de atividade para a criançada e os adolescentes deve ser mesmo descontraída. De outra forma, não seria atraente o suficiente para garantir a assiduidade. Mas o bom é que, mesmo informais, elas resultam em muitos benefícios para a saúde. Até
porque uma das razões que levaram à criação desse tipo de aula foi justamente apresentar uma forma de impedir o crescimento dos índices de obesidade nos pequenos. Os especialistas no assunto estimam que no mundo cerca de 14% das crianças entre sete e 14 anos está acima do peso. Sabe-se que gorduras a mais e sedentarismo são duas importantes ameaças ao coração.

E como as crianças, principalmente as das grandes cidades, dispõem atualmente de pouquíssimo espaço e tempo para brincar e se movimentar, o jeito foi levar para dentro das academias um pouco da brincadeira e exercício perdidos. “Hoje, as crianças ficam mais tempo em casa, jogando videogame e assistindo à televisão”, explica Ana Lúcia de Sá Pinto, pediatra e médica do esporte do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Antes, elas eram criadas de uma forma mais livre e tinham a oportunidade de correr na rua, subir em pé de árvore, enfim, fazer muitos movimentos”, completa a médica. É exatamente essa sensação que as novas aulas de ginástica querem proporcionar às crianças.