Apesar de ser médico especializado em saúde pública, o escritor gaúcho Moacyr Scliar nunca havia dado a menor bola para Oswaldo Cruz. Mas acabou escrevendo o livro que chega adaptado às telas com o título original de Sonhos tropicais (Brasil, 2002) – em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo na sexta-feira 26 –, sobre a política sanitária do médico. O filme que marca a estréia no longa-metragem do produtor, diretor e distribuidor André Sturm, custou R$ 2,8 milhões. Focaliza a luta de Oswaldo Cruz (Bruno Giordano) para combater o mosquito da febre amarela, Aedes aegypti, que já fazia sucesso por aqui havia mais de um século, antes de ser estrela da dengue. Seus esforços culminaram com a chamada Revolta da Vacina, episódio que ajudou a provar que no Brasil as doenças eram apenas um dos sintomas de uma cadeia de problemas políticos e sociais. Fato até hoje em voga.

Com a anuência do escritor, Sturm decidiu acrescentar uma trama paralela envolvendo a polaca Esther (Carolina Kasting), transformada à força em prostituta, ajudada por Vânia (Lu Grimaldi) e pelo Dr. Cardoso de Castro (Flávio Galvão), um delegado cheio de comprometimentos. Sturm deu ênfase à reconstituição histórica e, auxiliado pela ótima luz de Jacob Solitrenick, mostrou competência na sua estréia. Extraiu desempenhos excelentes do trio de protagonistas e provou que, em tempos trágicos de uma maldita doença tropical, nada mais didático e oportuno do que acompanhar a trajetória de um médico espremido entre o compromisso público e as disputas políticas.