Nada de mantos, cabeças raspadas, perfumes que se confundem com incensos ou sublimação dos prazeres da vida. Mas nem por isso deixam de ser monjas e mestras de uma técnica inédita que chegou ao Brasil para remover o stress da vida moderna, aliviar tensões, alinhar coração e mente, transcender limitações, medos e, com isso, atingir diretamente a raiz da consciência humana. A Ascensão dos Ishayas não é meditação, nem religião, tampouco filosofia. Mas pode ser considerado esoterismo prêt-à-porter, uma vez que se baseia em técnicas que podem ser praticadas em qualquer lugar, de olhos abertos e fechados, todo o tempo o tempo todo. Sakti Ishaya, uma ex-cantora e compositora de sucesso na Austrália, país onde nasceu, trouxe para a América Latina, com Bhushana Ishaya, os ensinamentos surgidos há dois mil anos nas montanhas do Himalaia. Para se dedicar à nova vida, abandonou a carreira há quatro anos, mas, como escreveu Alessandra Nahra, em um artigo para a revista Planeta, “mais parece uma pop star. É uma morena alta, bonita e comunicativa: uma monja do novo milênio”. E foi como uma pop star que ela fez soar os primeiros acordes dessa nova música no lado de baixo do Equador. Na Venezuela e na Colômbia já são milhares vibrando no mesmo som. No Brasil, um pequeno grupo de praticantes se encontra em São Paulo e no Rio de Janeiro. O que está atraindo e fazendo crescer essa congregação – cerca de 250 pessoas – é a “cura” para os males causados pelo stress e, mais profundamente, a descoberta do código de acesso para a expansão da consciência, que remete o iniciado a uma espécie de nirvana que mora adormecido em cada um de nós.

Para começar o processo de ascensão não é preciso limpar a mente, manter a coluna ereta, encostar a língua no palato. Nem cruzar as pernas em lótus, ficar em silêncio, mudar de hábitos ou de crenças. As técnicas são mecânicas, individuais e, para os céticos de plantão, funcionam independentemente de se acreditar ou não nelas, asseguram as discípulas de Sakti designadas para atender à demanda brasileira Bhairavinanda Ishaya e Narashamsa Ishaya. Elas explicam que o resultado “é poderoso” na medida em que as atitudes são exercitadas. “Elas mantêm a mente em completa atividade o tempo todo. As ondas cerebrais se tornam uniformes e contínuas entre os dois hemisférios do cérebro, o direito (intuitivo, feminino) e o esquerdo (lógico, masculino). As técnicas Ishayas estão sendo testadas por médicos, inclusive neurologistas, que já não consideram mais “alternativas” quaisquer que sejam as ferramentas capazes de ativar a mente para sarar o corpo.

Embora só possam ser passadas por um mestre, as técnicas “são muito simples e possíveis de ser praticadas até por uma criança de quatro anos”, atestam as mestras. Elas estão baseadas, explicam Bhairavinanda e Narashamsa, em quatro verdades absolutas: louvor, gratidão, amor e compaixão. Apesar de as monjas adotarem um nome de pronúncia complicada, em sânscrito, os conceitos necessários para a prática são passados aos interessados em português. E os compromissos mais importantes exigidos por elas são que a “chave” para o alívio das tensões seja transmitida por um mestre e que se pratiquem as técnicas durante seis semanas, no mínimo uma hora por dia, de olhos fechados, e, no resto do dia, todo o tempo que for possível, de olhos abertos. “Essa uma hora de olhos fechados você pode dividir entre manhã, tarde e noite ou manhã e noite. Da melhor forma possível dentro de sua própria vida. Não precisa marcar horário, pôr o relógio para tocar, ter um lugar especial. Nada disso! É uma técnica anti-stress e não pode se tornar um stress na vida de quem a pratica”, brinca Narashamsa.

Um outro ponto necessário para
varrer da mente e, consequentemente, do corpo o “mal moderno” é viver o agora, sem se voltar para o ontem
ou para o amanhã. As mestras ensinam que, na maioria das vezes, a fonte de tensões está em situações por nós vivenciadas em vários momentos – da infância ao agora –, que não são necessariamente conscientes. “A função destas técnicas está em dinamitar esta fonte permanente de tensão, que chamamos de crenças limitantes, e evitar a contaminação da mente por novas tensões. Uma criança deixada na escola pela primeira vez pode acreditar que, por exemplo, ‘quem me ama me abandona’. Esse padrão, inconscientemente, pode se repetir e com ele outros processos limitantes podem vir a surgir, estressando ainda mais a vida afetiva, familiar ou profissional”, advertem as mestras.

O maior grupo de adeptos dos Ishayas está no interior de São Paulo (Sorocaba, Itu e Campinas). Até a tradicional Faculdade de Direito de Itu abraçou os ensinamentos como ferramenta para o autoconhecimento e o aumento da capacidade de concentração e aprendizado. Os primeiros passos da Ascensão dos Ishayas começaram em Sorocaba, em novembro de 2001, quando o professor Mário Duarte trouxe Sakti para o Brasil. Em dezembro do ano passado, ela ministrou o primeiro curso para o público carioca e lançou, no programa Alternativa Saúde (GNT), apresentado pela atriz e escritora Patrícia Travassos, o livro Hei Deus! É hora de despertar, no qual Sakti e Bhushana contam suas experiências e como mudaram suas vidas a partir dos ensinamentos que vieram do Himalaia.

Caminho de volta – O contato com as monjas e o acesso às técnicas fizeram de Patrícia uma praticante dedicada e entusiasmada divulgadora dos preceitos. “Sinto uma alteração física. Algo que está se transformando. Há uma mudança de frequência.” Na busca do autoconhecimento, a atriz sabe do que está falando. Já trilhou vários caminhos: psicanálise, budismo, santo daime e meditação transcendental. Ferramentas que, de uma forma ou de outra, servem de unguento para o sofrimento da alma, do corpo e da mente, os principais ingredientes do stress da vida moderna. “Não sou uma leiga e considero esses ensinamentos muito práticos na sua aplicação, eficazes e poderosos”, diz Patrícia. De forma bem-humorada, a atriz se define como “ecumênica completa” e ressalta que em todas as práticas disponíveis no mercado não há verdade melhor ou pior. Sobre os preceitos Ishayas, que ela tem posto em prática há quase seis semanas, Patrícia sente estar ampliando a consciência, alinhando coração e mente e limpando o que há de negativo e pouco saudável na sua forma de viver. “Qualquer trabalho nessas quatro áreas já vale a pena. Estou buscando o caminho de volta. Esse jogo (a vida) tem regras: só pode bater com canastra de ás e limpa. Estou procurando fazer a minha. Cada um que ache o seu caminho e faça a sua”, aconselha com savoir-faire de quem busca se conhecer, olhar o outro e tocar a vida, exorcizando a raiva, a frustração, o julgamento e outras poções de puro stress que contaminam o dia-a-dia, que acontece diferentemente de um comercial de margarina.

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A decoradora paulista Vera Forni, que não passou por nenhuma escola esotérica, se entusiasmou ao assistir à entrevista de Sakti Ishaya e decidiu fazer contato via e-mail para saber como obter o livro. Depois
de ler a experiência da monja, resolveu fazer, em São Paulo, o curso. Vera, avessa a calmantes e vítima de insônia, está impressionada com
os resultados por ela obtidos em tão pouco tempo de prática. “Hoje consigo dormir, me sinto mais calma, relaxada e vivendo melhor o presente. Elas são poderosas”, conta a decoradora. Vera observa ainda que se adapta melhor às técnicas quando não exagera na comida ou na bebida. Não há proibição de coisa alguma, “mas o que não é bom para você vai saindo lentamente da sua vida e isso se dá em qualquer campo. É como se estivéssemos nos limpando”. O oftalmologista Basílio Brozoski mora no Rio, mas fez o curso em São Paulo. Segundo ele, as técnicas
são diferentes de tudo que já ouviu falar. “Elas não são racionais, são quase instintivas. Por mais que se duvide delas, sinto uma diferença grande e real. Não tem tradução, tem que ser experimentada, até porque em cada uma delas se tem sensações fortes e individuais. Me sinto diferente, como se estivesse vendo o mundo com outros olhos”, afirmou
o médico, que já passou pelo budismo.

Mas não só aqueles que experimentaram a meditação, a religião ou outras técnicas de autoconhecimento estão embarcando na canoa dos Ishayas. Empresários e até políticos estão lançando mão destas técnicas para livrar-se do stress e aumentar sua percepção. O centro Ishaya para a América Latina, que fica em Santa Marta, na Colômbia, já despertou a curiosidade e o interesse de dirigentes políticos. O presidente da conturbada Colômbia, Álvaro Uribe, está, segundo as mestras, se tornando um praticante. Para a maioria dos iniciados abordados por ISTOÉ, as vantagens dos ensinamentos estão na facilidade de sua aplicação e na revolução que proporcionam no aprendiz e em seus mundos físico ou etéreo. Bhairavinanda, que é colombiana e foi advogada de um grande banco venezuelano, e Narashamsa, dona de uma indústria também na Venezuela, insistem que, além de dispensarem atos cerimoniosos, as técnicas não têm conotação religiosa. Casada com um advogado que também se tornou mestre, Bhairavinanda conta que o segredo está em adaptar as técnica ao modo de vida de cada um e a partir daí despertar
o “quem realmente somos”.

Como ninguém é de ferro, um dos conselhos para quem está no
caminho asceta é não abrir mão de expressar suas emoções, uma vez que não existem sentimentos bons ou ruins, são apenas sentimentos.
As monjas seguem à risca este conceito. São capazes de enfurecer
sem culpa e exercitar a raiva escrevendo e queimando aquilo que expressaram no papel, ou até mesmo gritarem com o rosto voltado
para uma almofada. Em se tratando de sentimentos, Bhairavinanda e Narashamsa não escondem que gostam, quando estão em São Paulo,
de fazer compras em shoppings ou frequentar as principais salas de cinema da cidade. No Rio, a mais recente programação foi outra: cair
no samba. Elas ficaram até o sol nascer na quadra da Estação Primeira
de Mangueira, assistindo a um ensaio da alucinante bateria da verde-e-rosa. Não é à toa que elas trazem no nome que adotaram felicidade, alegria, força, vida e humanidade.

Nos fundamentos das técnicas ishayas

No receituário Ishaya, que em português significa “para atingir o mais alto grau de consciência”, o infinito é o que somos na realidade. Ao nascer, o indivíduo cria sua fonte de stress através do que chamam de crenças limitantes (como o medo, o desamor, o abandono), afastando-se do que realmente é: “um ser perfeito”. As técnicas fazem com que o iniciante não se esqueça desta realidade e remova os focos de stress do sistema nervoso central. Os ensinamentos, que são mentais e não necessitam de concentração, desencadeiam um processo que faz trabalhar unidos os dois hemisférios do cérebro. O pensamento em meio aos exercícios é uma das formas de liberação de stress e não deve ser evitado, basta ser varrido com a retomada da técnica que se está exercitando. Os princípios das quatro primeiras Atitudes baseiam-se no Louvor, Gratidão, Amor e Compaixão. Ao praticá-las de olhos fechados, o aprendiz estará apagando da mente e do corpo, inclusive em nível celular, toda fonte de stress e medos nele contidos, consciente ou inconscientemente. Ao se exercitar de olhos abertos, o indivíduo estará criando uma barreira que evita que o dia-a-dia gere novas tensões. Agora, para saber como botar as Atitudes em prática, é preciso fazer o curso, uma vez que elas só podem ser passadas por mestres. Os cursos são ministrados durante um fim de semana e as datas podem ser confirmadas no site www.ishayabrasil.com.br. Em São Paulo, a “primeira esfera” acontecerá nos dias 22 e 23 de março, no Regent Park Hotel, e no Rio, nos dias 29 e 30, no Hotel Glória.
 


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