Que lições se pode tirar de um país que
promove uma semana internacional de moda
com estilistas saídos diretamente de uma favela, mas é o quarto colocado no vergonhoso campeonato das piores concentrações de renda do mundo? Na semana em que o dólar rompeu a emblemática barreira dos R$ 3, os candidatos à Presidência da República deveriam meditar sobre os números da indústria da moda no Brasil, que movimenta US$ 22 bilhões, cria milhões de empregos e dá um show de criatividade que encanta os países ricos, além de exportar beldades como Gisele Bündchen e Adriana Lima.

Também deveriam tentar buscar explicações para os números divulgados pela Organização das Nações Unidas que provam que a concentração da riqueza vem piorando ano a ano, apesar de toda a prosa sobre modernidade e globalização. É impressionante constatar que no mundial da miséria o Brasil pentacampeão nos gramados também sobe no pódio. Triste disputa. Trágico resultado. Estar em companhia de países miseráveis da África, onde a população vive a morrer em guerras civis, deveria dar vergonha. Mas, aparentemente, só temos indiferença. O aumento do dólar, a queda das Bolsas, o desemprego que explode, a necessidade de um novo acordo com o FMI. Tudo isso inquieta. Para o onipotente, onipresente e onisciente mercado ainda temos mais um problema: a eleição no meio do caminho. Isso sem falar na violência nossa de cada dia. Tudo inquieta, mete medo, mata. Essa é a metade do enigma que precisa ser resolvido pelo conjunto da sociedade brasileira.

Entender a outra parte é mais fácil. Basta deixar fluir a imaginação, a alegria, a vontade de produzir, de criar, de trabalhar. Nas passarelas, nos campos de futebol, na música, na indústria, brasileiros empreendedores provam todos os dias que este país pode acontecer. Quantos exemplos temos de vitoriosos, gente que rompeu seu destino original, a morte ou o crime, para sobreviver e brilhar. Se conseguissem responder o porquê desses dois lados tão distintos do mesmo Brasil, os candidatos ao Palácio do Planalto talvez pudessem começar a mudar as coisas e fazer a roda da história voltar a girar.

Ramiro Alves, Editor