A polícia não sabe ainda o que levou o usineiro Alexandre Titoto, 44 anos, a terminar cruelmente com a vida de seu amigo de infância, o analista financeiro e ex-vice-presidente do Banco Nacional de Paris no Brasil, Carlos Alberto de Souza Araújo, de 41 anos. Titoto espancou e enterrou Araújo ainda com vida numa cova rasa na Fazenda Barra Grande, de sua família, que fica na cidade de Serrana, a 23 quilômetros de Ribeirão Preto, cidade onde nasceram e passaram os melhores momentos de suas vidas. As famílias de ambos evitam dar declarações sobre o crime que abalou o interior de São Paulo e as investigações giram em torno de uma suposta dívida após a venda de dois carros importados, um Mercedes-Benz e uma BMW, para o usineiro.

 Carlos Alberto Araújo morava sozinho em um confortável apartamento
na alameda Franca, nos Jardins, área nobre de São Paulo. Os fins de semana, ele passava com a família e os amigos em Ribeirão Preto. Ele também aproveitava esses dias de folga para tratar de negócios com o amigo de infância Titoto, um dos donos da Usina Ipiranga. Na sexta-feira à noite, dia 21, Araújo, como fazia sempre, foi para Ribeirão. No domingo, saiu da casa da mãe dizendo que ia se encontrar com Titoto no escritório para receber uma dívida de R$ 620 mil. Por volta das 17h, ele estacionou seu carro – um Land Rover – em frente ao Edifício Millennium, na rua Chile, 1.711, no Jardim Irajá, área nobre da cidade. O usineiro aguardava Araújo já na recepção do prédio. Cumprimentaram-se como sempre e juntos subiram até o quarto andar.

Pouco tempo depois, Titoto desceu sozinho até a recepção. Pediu ao porteiro, Agenor Nogueira, que ficasse na calçada do prédio para receber uns documentos que seu motorista iria lhe trazer. Agenor cumpriu as ordens do usineiro sem suspeitar que ele aproveitaria sua ausência para retirar do escritório o corpo de Araújo. Titoto saiu pela garagem na Mercedes preta, comprada do amigo, deixando para trás muitos rastros de sangue. Suspeito desde o início das investigações, o usineiro acabou confessando o crime na segunda-feira 24 e apontou o local onde tinha enterrado Araújo. O corpo do analista foi encontrado entre um canavial e um cafezal da fazenda do irmão. Com pancadas na cabeça e os pés amarrados, Araújo estava abraçado a um pedaço de pau e enterrado em uma cova, de 1,10 metro de profundidade.

Alexandre Titoto se negou a depor e disse que só falaria em juízo. “Ele matou o amigo dentro do escritório e transportou o corpo até a fazenda. O motivo teria sido uma dívida contraída com a venda de um carro importado, que até agora não foi bem explicada”, contou o delegado Samuel Zanferdini. Depois de ser espancado dentro do escritório, Araújo foi arrastado pelas escadas até o segundo andar, de onde seguiu de elevador até a garagem do prédio. No escritório do usineiro, cheio de sangue, a polícia encontrou dois cheques, um de R$ 405 mil, rasgado e assinado por Titoto, e um canhoto que registrava a emissão de um outro cheque de R$ 620 mil. Segundo a polícia, Araújo vendeu os dois carros – a Mercedes preta e uma BMW – para o usineiro. “Não sabemos ainda se as dívidas se referem realmente aos carros.” As investigações revelaram que Araújo ganhou duas vezes com a venda da Mercedes. “Ele registrou queixa de roubo no 96º DP, recebeu o dinheiro do seguro e vendeu o carro para o usineiro, que apenas trocou as placas”, revelou Zanferdini. A BMW foi repassada a terceiros. O atestado de óbito apontou que Araújo foi vítima de traumatismo craniano e enterrado ainda vivo.