Desde que deixou o comando da Prefeitura de São Paulo em janeiro de 2001, Celso Pitta dedicou parte de seu tempo entre São Paulo e Miami para a redação de um livro. Passados quase cinco meses, a obra de 175 páginas está pronta e será oficialmente lançada na segunda-feira 22. Em “Política e Preconceito – a história e a luta do prefeito que enfrentou os poderosos”, Pitta coloca sua versão sobre as mazelas que proliferaram na administração da maior cidade
do País durante sua gestão. Apesar de não fazer nenhuma revelação bombástica – o que indica que Pitta não escreveu tudo o que sabe —, o livro do ex-prefeito paulistano aborda alguns detalhes interessantes. Ele descreve, por exemplo, o empenho do então secretário de Comunicações da Presidência da República
Andréa Matarazzo para que um pedido da Rede Globo fosse atendido pela Prefeitura paulistana. Em 1999, Pitta, alegando transtornos para
a cidade, proibiu que a final do campeonato brasileiro de futebol fosse realizada na tarde de quarta-feira, antevéspera de Natal. Tal medida feriu os interesses da TV Globo, que já havia vendido para a Europa a transmissão do jogo. No livro, Pitta recorda-se que Matarazzo lhe telefonou de Brasília pedindo para revogar a decisão. O ex-prefeito não recuou e o jogo se realizou a noite.

Ao longo de todo o livro, Pitta não esconde a mágoa que carrega em relação ao publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha que
o elegeu e também pela fracassada disputa de Maluf pelo governo paulista em 1998. Na página 66 do livro, Pitta divulga que o publicitário tinha um contrato de R$ 18 milhões anuais com a Prefeitura paulistana. “Duda não aparecia na Prefeitura e, por causa de sua atitude, resolvi cancelar seus serviços. Duda foi demitido”, escreve o ex-prefeito. Na verdade, porém, o livro de Pitta deixa claro que o publicitário não foi demitido porque não trabalhava e sim porque recomendou a Maluf na campanha de 1998 que pedisse desculpas ao eleitorado por indicar o
voto a Pitta dois anos antes.

Em toda a narrativa, escrita de maneira direta e fluente, o ex-prefeito coloca-se no papel de vítima, seja da mídia, da oposição e até dos próprios aliados. No capítulo 10, onde trata do rompimento com Paulo Maluf, Pitta descreve uma cena que, segundo ele, ilustra bem o modo malufista de fazer política. O ex-prefeito conta que as relações com
Maluf foram se estremecendo na medida em que seu padrinho político
se silenciava em relação as críticas feitas á sua administração, principalmente àquelas vindas de malufistas históricos. Pitta narra
que estava na casa de Paulo Maluf quando o secretário de Obras, Reynaldo de Barros, telefonou. Maluf, sem avisar o interlocutor, colocou
o telefone no viva-voz para que Pitta ouvisse os comentários maldosos de Reynaldão sobre o governo a que pertencia. “Concordo que comecei muito mal, mas isso aconteceu porque, por uma questão de honestidade e princípios, mantive no governo pessoas ligadas a Maluf”, diz Pitta. O ex-prefeito trata da questão dos precatórios, da máfia dos fiscais e dos pedidos de impeachment que sofreu, mas não aprofunda nenhuma dessas questões. Remete tudo à tal perseguição da mídia. Pitta também não esclarece como tem feito para viver esse período em que está sem emprego. São questões que talvez sejam abordadas nos próximos meses, quando estará disputando uma vaga para a Câmara Federal.