A estrela de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT ao Planalto, brilhou na última semana. Apesar das críticas de setores da sociedade, como a CNBB, de que o partido vem abrandando o discurso para agregar mais votos, o desempenho de Lula entre o eleitorado está em curva ascendente. O candidato voltou a ultrapassar a casa dos 30%, conforme mostrou a última pesquisa do Datafolha, feita após o programa eleitoral gratuito, que foi ao ar na segunda-feira 8, e publicada na quarta-feira 10. Com Itamar Franco (PMDB) fora da disputa, Lula cresceu
cinco pontos e Ciro Gomes (PPS), um. O candidato tucano José
Serra estagnou nos 19%. Roseana Sarney (PFL) caiu de 16% para
13% e Garotinho (PSB), de 16% para 15%.

Na mesma quarta-feira, Lula, em entrevista à jornalista Miriam Leitão, na Globonews, aproveitou o espaço para desmontar a estratégia adversária de que é um candidato radical, aliado ao descumprimento dos contratos e à quebra da ordem estabelecida. “Sou o homem do diálogo”, reforçou, sinalizando para os empresários que seria irresponsável optar pelo calote nas dívidas interna e externa, por exemplo. Sossegou os investidores estrangeiros ao dizer que não pretende mexer na remessa de lucros. “Gostaria que entrassem mais investimentos. Estive na China no ano passado e a primeira pergunta que fiz foi: Como vocês controlam a remessa de lucros? Eles responderam que não controlam. O empresário vem aqui, investe, segue as regras e paga os impostos. Depois disso ele faz o que quiser.” Segundo Lula, o Brasil tem que oferecer aos investidores infra-estrutura, mercado e mão-de-obra qualificada “e não ter como prioridade juros altos e venda de patrimônio público”.

No programa de tevê assinado pelo marqueteiro Duda Mendonça, o petista defendeu o direito à propriedade, mostrando estar distante da estratégia de um de seus aliados, o MST, que invadiu, no dia 23 de março, a fazenda de FHC em Minas. Para barrar a tese de que não está preparado para exercer o cargo, ressaltou que seu programa de governo é fruto do trabalho de quatro mil pessoas, sob sua liderança, e que hoje
o PT administra seis Estados, sete capitais e mais de 180 prefeituras. Independentemente da estratégia de defesa usada na tevê, a invasão promovida pelo MST não atingiu Lula nas pesquisas, conforme mostrou
o Datafolha. A pesquisa não teria detectado a totalidade do efeito
do programa no eleitorado. Segundo analistas, no entanto, a população já consegue dissociar a imagem de Lula e seu partido do Movimento
dos Sem-Terra.

Para fechar a semana com estrela de ouro, o petista recebeu na França o apoio formal do Partido Socialista, do primeiro-ministro francês Lionel Jospin, à sua candidatura. Discursou em um comício de Jospin, também candidato à Presidência, em Bordeaux, região dominada pelos socialistas e conhecida pelos seus nobres vinhos. Lula falou em português e foi traduzido pelo namorado da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, Luís Favre. Depois, disse que muitas coisas pelas quais o PT luta no Brasil “são defendidas pelo PS francês”. O candidato do PT foi muito aplaudido e saudado pelo primeiro-ministro no palco. Jospin disse à imprensa que, se ele ganhar na França e Lula no Brasil, haverá uma política de cooperação entre os dois governos.

Apesar das comemorações do PT e da equipe de campanha pela volta
da boa fase de seu candidato, a ordem é não cantar vitória e continuar trabalhando em cima do medo de mudar do eleitor brasileiro: a disputa está só no começo e é preciso manter a candidatura de Lula acima
dos 30%.