As investigações sobre as acusações de Gloria Trevi, que afirma ter sido forçada a ter relações sexuais com um policial enquanto esteve presa na Polícia Federal em Brasília, esbarravam em uma limitação: a cantora mexicana recusava-se a revelar os nomes do policial e daqueles que tinham sido coniventes com o crime. Um documento que chegou às 15h03 do dia 26 de março às mãos do ministro Nery da Silveira, no STF, rompeu esse silêncio. Na petição 37.471, em que responde a um mandado de notificação da 4a Vara Criminal de Brasília, Gloria afirma, e assina embaixo, que manteve relações sexuais não consentidas com um delegado. Foram três relações sexuais entre eles enquanto a cantora esteve presa. A mexicana era retirada da cela fora do horário de visitas e levada para a sala do delegado, longe das câmeras de vídeo que monitoram os presos. Numa das relações, ela estava algemada. Na carceragem da PF, onde ficou custodiada por 19 meses, Gloria engravidou. O teste de paternidade realizado sob a tutela da PF apontou outro preso, o empresário mexicano Sérgio Andrade, como o pai de Angel Gabriel, nascido no dia 18 de fevereiro. Andrade nega que seja o pai e um novo exame de DNA será realizado. Mas para os encarregados do inquérito que apuram o caso, o delegado Cláudio Ferreira Gomes e o procurador Alexandre Camanho, não importa quem é o pai, mas as acusações de Gloria contra policiais.

“Cerca de dois meses depois da chegada da extraditanda na PF, o delegado começou a assediar a pessoa da extraditanda, o que culminou com a ocorrência, em mais de uma oportunidade, de relações sexuais”, diz o documento. “Jamais a extraditanda quis que qualquer relação houvesse ocorrido”, completa. A primeira relação, segundo Gloria, ocorreu no final de setembro ou início de outubro de 2000. Ela foi retirada de sua cela depois das 18h e mantida algemada durante o ato. As outras duas relações ocorreram em maio. No dia 6 de maio de 2001, um domingo, às 16h, e no final do mês, às 22h, Gloria foi novamente levada à sala do delegado “onde foi constrangida a ter uma relação sexual”. Nas duas vezes, foi levada ao local por um carcereiro chamado Muniz. “Nessa última oportunidade, sofreu uma crise nervosa durante o ato, fruto daquilo que estava se tornando uma constante”, diz o depoimento. A ultra-sonografia feita por Gloria mostra que ela engravidou em maio, provavelmente entre os dias 6 e 26.

Em novembro e dezembro do ano passado, ISTOÉ publicou uma série de reportagens mostrando que a PF não estava investigando a sério as denúncias de que policiais federais tiveram relações sexuais com Gloria Trevi. Primeiro, foram reveladas cartas de José Carlos Carlini, preso numa cela vizinha à que foi ocupada pela cantora, relatando que dois agentes, Carlos José Santana e Marcos Edilson do Rego Bandeira, a quem chamou de “dupla de garanhões”, sabiam da violência contra a presa. Em seguida, ISTOÉ trouxe o depoimento de uma ex-colega de cela de Gloria, Roberta Menuzzo, que disse ter ouvido da cantora, já grávida, o nome do policial com quem teve relações sexuais. A ex-presa depôs na PF e confirmou o que ouviu. E ainda o acusou de tentar coagi-la a mentir em seu depoimento usando uma amiga, a advogada Antonieta da Costa. Uma fita gravada por Roberta, e entregue à polícia, mostra Antonieta, em nome do policial, oferecendo favores em troca de uma mudança no depoimento. “Acabou a desculpa para não investigar”, afirma Otávio Bezerra Neves, advogado de Gloria Trevi. A defesa da cantora apóia a decisão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que decidiu investigar o caso, além de exigir a realização de um novo exame de DNA. “O empresário Sérgio Andrade continua negando que seja o pai”, diz o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), membro da Comissão de Direitos Humanos. “Se ele é o pai ou não já não tem a menor importância. Apareceu o nome de um delegado que fez sexo com uma presa”, diz Otávio Neves.