Quando descreve as tentativas da matriarca da família Walsh em esconder das filhas as bebidas alcóolicas da casa, Marian Keyes se mostra impagável. É apenas um detalhe curioso, mas que faz a festa de Melancia (Bertrand Brasil, 490 págs., R$ 49), primeiro romance da autora lançado no Brasil, tendo como tema a atração etílica que já foi um tormento na vida dela própria. Há oito anos, esta irlandesa radicada em Londres não passava de uma modesta funcionária de um escritório de contabilidade, sem nenhuma pretensão literária. Só começou a escrever na esteira de um tratamento contra o alcoolismo, antecedido por uma tentativa de suicídio, em 1995. De lá para cá, Marian voltou para Dublin e se tornou um fenômeno editorial. Vendeu mais de cinco milhões de exemplares em todo o mundo.

Lançado originalmente por uma pequena editora, o romance é uma comédia romântica. No dia do nascimento da primeira filha, a personagem, inchada como o fruto que dá título ao livro, acompanha incrédula uma reviravolta no roteiro traçado para sua estadia na maternidade. Em vez de se encantar com o bebê, o marido passa direto pelo berçário e corre para os braços de uma nova paixão. A partir do episódio tragicômico, a autora conduz sua personagem a uma série de desconcertantes diálogos interiores. Embora esquadrinhe sentimentos como rejeição e perda, ao final cria uma obra leve e divertida. Dito assim, Melancia pode parecer um simples romance água-com-açúcar. Não é. A diferença está na atitude das mulheres retratadas que, em nome da busca da felicidade, não se contentam com soluções fáceis.